São Paulo, quinta-feira, 4 de julho de 1996
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BCN tenta resgatar créditos

DA SUCURSAL DO RIO

A menos de um mês para que a Mesbla deposite a primeira parcela da concordata, no valor de cerca de R$ 103 milhões, os credores lutam para conseguir resgatar seus créditos que estão fora da concordata o mais rapidamente possível.
Além do Banco Pontual, que executa as garantias de um empréstimo de R$ 24,5 milhões, também o BCN (Banco de Crédito Nacional) conseguiu um despacho da juíza da 20ª Vara Cível, Márcia Cunha Silva Araújo, que obriga a Mesbla a depositar em juízo R$ 19,968 milhões.
Esse valor se refere a uma dívida de R$ 18,144 milhões (além das custas processuais). A Mesbla tem 24 horas para fazer o depósito a partir da intimação, o que, segundo a Folha apurou na Justiça, deve ocorrer hoje.
O empréstimo do BCN, assim como o do Pontual, teve como garantia os recebíveis (quantias a receber) do cartão Mesbla, cartão de crédito próprio da rede varejista.
O despacho da juíza diz que, no caso de a Mesbla não fazer depósito judicial, dois de seus gerentes podem ser considerados "depositários infiéis", sujeitos a prisão.
Os gerentes citados no processo de execução são os das lojas do Passeio (no centro do Rio), Sérgio Corrêa, e da avenida das Américas (Barra da Tijuca, zona sul), Pilar Figueiredo. O BCN havia pedido que os pagamentos do cartão Mesbla das duas lojas servissem como garantia.
Os recebíveis do cartão Mesbla foram considerados garantias reais pela 3ª Câmara do Tribunal de Alçada Cível (segunda instância), o que garante que eles podem ser executados fora da concordata.
A Mesbla alega, no processo, que não dispõe dos recursos, que teriam sido dados em garantia para o empréstimo do Banco Pontual.
Além dessa execução judicial, o BCN tem mais três processos contra a empresa.
Na avaliação de analistas de mercado ouvidos pela Folha, a má gestão ao longo dos anos e um erro de avaliação na virada do governo Sarney para o governo Collor formam a base da crise da Mesbla.
Com a eleição de Fernando Collor, em 1989, num panorama de inflação alta, a empresa não reavaliou o comportamento do mercado a partir da posse do novo presidente. Collor bloqueou os recursos no sistema financeiro, apertou o crédito e promoveu uma enorme escassez de dinheiro no mercado.
A Mesbla entrou na nova conjuntura carregada de estoques. Com a virtual paralisia do mercado, teve de financiar esses estoques a juros elevados. No final de 1990, seu balanço registrava um prejuízo de US$ 23 milhões, o primeiro da sua história. A partir de então, a dívida só cresceu, agravada por uma gestão que concentrava gastos na área administrativa.

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