São Paulo, quarta-feira, 10 de julho de 1996 |
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Real: os novos desafios
OLAVO MONTEIRO DE CARVALHO O aniversário recente de dois anos do Plano Real estimula a reflexão sobre o papel que a iniciativa privada tem a assumir no processo de modernização e crescimento do país.É inegável que o Real proporcionou grandes conquistas: a estabilização econômica, o controle sobre a inflação e um início de redistribuição de rendimentos que começa a beneficiar os segmentos de mais baixa renda. Para as empresas, o Real impôs um novo desafio de competitividade. Felizmente, vimos o país deixar para trás as práticas cartoriais e os subsídios que tantos danos causaram à economia nacional. A necessidade de adequação aos novos tempos se materializa agora em resultados importantes. De acordo com o diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central, Gustavo Franco, em matéria recentemente publicada, a produtividade do setor privado nacional está crescendo a uma taxa média de 7% ao ano. É a melhor prova de que o empresariado está atento às exigências impostas pela estabilização e pela abertura da economia. Evidentemente, o cenário atual sacrificará apenas os que não estiverem preparados para os desafios que agora se impõem. A estabilidade econômica tem tudo para trazer prosperidade e crescimento para as empresas e para o país. É necessário, porém, ter consciência de que ainda há muito a fazer. Em primeiro lugar, é preciso que tanto o empresariado quanto a sociedade se mobilizem no sentido de sensibilizar o Congresso Nacional para a importância de acelerar a aprovação das reformas. Só com as reformas administrativa, tributária e previdenciária será possível prover o país e as empresas das condições necessárias para a continuidade do crescimento nos níveis esperados. Para as empresas, as reformas constituem a oportunidade de ver reduzido drasticamente o "custo Brasil", com desoneração das exportações e adoção de políticas de descentralização, desburocratização e redução de encargos. O empresariado deve fazer a sua parte para colaborar com os novos tempos de crescimento econômico com justiça social. Será preciso, porém, contar com a contrapartida do Legislativo e do Executivo nesse processo. Além de colaborar para que nossas exportações concorram em igualdade de condições com as de outros países, há que procurar evitar o "dumping" e os subsídios no país exportador. Não é possível concorrer com importações de produtos a preços abaixo de seus custos de produção. É importante lutar, também, contra os obstáculos às exportações brasileiras, identificando os entraves e negociando com nossos parceiros comerciais a retirada das sanções e barreiras não-tarifárias. Também é necessário que se promova, de imediato, profunda reestruturação dos serviços públicos de infra-estrutura. Sua deterioração recente é uma das grandes inimigas da adequação do setor produtivo aos padrões internacionais. Outro ponto da maior importância diz respeito à redução do déficit público. Ela é requisito essencial para que o governo volte a gerar poupança, viabilizando o aumento de investimentos e o crescimento auto-sustentado. É necessário também que a política monetária contemple uma queda mais acentuada dos níveis das taxas de juros. É o que permitirá a concessão de empréstimos que aumentem o capital de giro das empresas, como forma de estimular o investimento produtivo. Só com acesso às linhas de financiamento, e com o consequente restabelecimento do mercado de crédito de longo prazo, é que as empresas estarão aptas a crescer como se espera. Finalmente, há que facilitar o acesso das empresas a novas tecnologias, que contribuam significativamente para uma maior capacitação da mão-de-obra nacional. Para o setor privado, o grande desafio da modernização está em conquistas de eficiência, produtividade e competitividade. Não basta, porém, que as empresas se preparem para o cenário que se apresenta. É necessário contar, em especial, com a colaboração e com a mobilização do Congresso. Já é quase um lugar-comum afirmar que as reformas constitucionais representam instrumento essencial de sustentação do Real. A questão é que, atualmente, as reformas constituem também instrumento essencial de competitividade para as empresas. Sem elas, não há como esperar uma inserção verdadeiramente competitiva nos mercados que se abrem com a globalização econômica. Os historiadores costumam fixar a queda da Bastilha como o início da Idade Moderna. Para os governos federal e estaduais, para a iniciativa privada e para toda a sociedade, a Bastilha são as reformas constitucionais. É essa a revolução que se deseja. É esse o caminho para a modernidade. Texto Anterior: Lições da experiência chilena Próximo Texto: A questão dos brinquedos Índice |
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