São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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Paradeiro do informante do DOI é desconhecido

CARLOS ALBERTO DE SOUZA; ANA MARIA MANDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O paradeiro de Manoel Jover Teles é ignorado pela esquerda gaúcha. Militantes ouvidos pela Agência Folha nos últimos dias deram informações desencontradas sobre o ex-integrante do PC do B, que não é visto há anos.
A versão predominante é a de que ele vive praticamente escondido -para alguns, em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre; para outros, em Santa Maria, no centro do Estado. Nessas cidades, não foi possível localizá-lo.
A maioria dos integrantes do PC do B do Rio Grande do Sul, quando perguntada sobre o paradeiro de Teles, responde com a frase "não sei nem quero saber" -revelando rancor contra o ex-companheiro, apontado por quase todos como "traidor".
Um dos que não têm esse comportamento é Nelson Salles, secretário do PC do B, que quer localizar Teles, atendendo pedido da cúpula nacional do partido. Segundo ele, Teles teria problemas de coração e próstata.
A Amadeo Rossi, fábrica de revólveres de São Leopoldo, negou que Teles tenha trabalhado na empresa, na qual teria se aposentado -uma das especulações em torno do ex-dirigente comunista. Outras são a de que ele viveria sob identidade falsa e teria feito uma cirurgia plástica para mudar a fisionomia.
O infiltrado
Quando os órgãos de segurança prepararam e executaram o ataque na Lapa, o ex-sargento Marival Chaves, 49, era analista de informações do DOI do 2º Exército.
Ele acompanhou os preparativos. "Ouvi o nome do infiltrado, Jover Teles, e seu codinome, 'VIP'. Era guardado a sete chaves", disse o ex-sargento à Folha.
Segundo Chaves, cerca de 30 automóveis -10 do DOI do Rio e 20 do de São Paulo- e 50 pessoas foram mobilizados na operação.
"Foi uma coisa gigante. A partir do 'ponto' de Jover Teles localizou-se a casa, que passou a ser vigiada diuturnamente, inclusive por agentes com binóculos, postados no alto de prédios."
Predisposição
Chaves afirmou que só não morreram todos os que estavam na casa devido à presença do "infiltrado": "Ele tinha de sair antes".
Segundo o ex-sargento, o PC do B figurou sempre como "prioridade um" para os órgãos de segurança. "Ainda mais em função da guerrilha do Araguaia."
Chaves disse que os dirigentes do PC do B "eram alvos seletivos, marcados para morrer": "Havia a predisposição de eliminá-los. Isso era voz corrente no órgão (DOI)".
O ex-sargento afirmou que soube do suicídio de Drummond, militante do PC do B morto em consequência da operação.
"Um colega (no DOI) me disse que o Drummond havia se jogado da torre de rádio. A sala de interrogatório ficava no segundo andar. Drummond se desvencilhou, achou uma porta aberta e subiu até a torre."
(CARLOS ALBERTO DE SOUZA e ANA MARIA MANDIM)

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