São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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Brasileiros se adaptam melhor aos EUA

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

As péssimas e parcas estimativas existentes indicam que de 1 a 2,5 milhões de brasileiros deixaram o país a partir da crise econômica dos anos 80.
Para a grande pergunta -quantos voltarão e quantos permanecerão fora?-, os sociólogos reunidos ontem no último dia da reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência ainda não têm respostas definitivas.
Mas tudo indica que por algum tempo o fenômeno vai se caracterizar por uma "circularidade".
Ou seja, os emigrantes vão e voltam, ao capricho de necessidades econômicas.
Alguns se estabelecem definitivamente no exterior, em grande parte apoiando o êxodo dos compatriotas com serviços específicos (comida típica, jornais em português etc).
Como em todo fenômeno migratório, uma vez estabelecida família, com filhos, fica mais difícil partir. A primeira geração nascida fora tende a se adaptar mais facilmente ao novo país.
"Os vôos da Varig para os EUA estão cada vez mais parecidos com os ônibus da Itapemirim", diz Teresa Sales, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), se referindo à mais popular das empresas de ônibus que transportam migrantes nordestinos.
Ela estudou os brasileiros na área da grande Boston (EUA) e acha que há indícios de que boa parte deles pretende se radicar ali.
Japão
Já no caso dos brasileiros de origem japonesa que foram ao Japão, a situação é ironicamente distinta.
Apesar de teoricamente terem mais afinidade étnica e linguística, os chamados "dekasseguis" têm mais dificuldade em se integrar à sociedade japonesa do que aqueles que foram para os EUA.
A maior rigidez da sociedade japonesa é um empecilho.
O imigrante tem de, por exemplo, aprender a falar de três modos diferentes de acordo com o interlocutor (alguém hierarquicamente "superior", "igual", ou "inferior").
Os brasileiros no exterior são em geral de classe média e classe média baixa. Eram bancários, comerciantes, vendedores, profissionais formados por faculdades particulares de segunda linha.
No Japão foram fazer trabalhos recusados pelos japoneses, como operários não qualificados, para quem uma semana de instrução basta para aprender o ofício.
Nos EUA, a maioria foi trabalhar no setor de serviços, como faxineiros ou entregadores de pizza -e chegando a garçons quando já sabiam mais inglês.

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