São Paulo, sábado, 13 de julho de 1996
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Administração racional dos recursos

LUIZ ROBERTO BARRADAS BARATA

Três fatores são decisivos para um gestor da área de saúde pública na hora de definir suas prioridades de gastos. O primeiro seria a magnitude da doença, ou seja, o número de pessoas atingidas. Nesse caso, destaco a malária, que, entre nós brasileiros, chega a mais de 500 mil casos por ano, ou a tuberculose, que, só em São Paulo, mata, em média, duas pessoas por dia.
Outro fator a ser considerado é a eficácia do tratamento. Se temos possibilidade de curar de fato. Por exemplo, é o caso das vacinas. Por fim, a chamada "transcendência" da doença, explicada pela comoção social. Nesse caso estaria a Aids, que, desde o seu surgimento, registrou, entre nós, cerca de 80 mil doentes.
Com base nesses critérios, sem dúvida a Aids deveria ser uma das prioridades, assim como as demais doenças que neles se enquadrem. O Ministério da Saúde está em dificuldades até para comprar vacinas. Portanto, o que administramos hoje é um país de doentes e poucos recursos para tratá-los. Nos cabe gerir esses recursos da forma mais racional possível.
Estamos de fato diante de um problema como "a escolha de Sofia", ou seja, qual dos filhos salvaremos da morte. Voltamos aos critérios iniciais procurando, como prioridade, salvar o maior número de pessoas possível.
Nessa ótica, a secretaria vem desenvolvendo programas como a distribuição gratuita de 40 medicamentos básicos para 4 milhões de pessoas nos municípios com menos de 30 mil habitantes, ou seja, os mais carentes. E, especificamente para Aids, a secretaria fornece para cerca de 20 mil portadores do vírus HIV medicamentos como o AZT, o DDI e o DDC, que representam um gasto anual de cerca de R$ 42 milhões.
Mais recursos para a saúde hoje significa, sem medo de ser acusado de alarmista, mais vidas salvas. Como comprar medicamentos de última geração para Aids, como os "coquetéis" que custam por paciente/ano mais cerca de R$ 20 mil, se o orçamento não é suficiente para comprar vacinas?
É uma situação que deixa os atuais gestores engessados diante dos seus prontos-socorros, que a cada dia recebem mais e mais doentes em função da baixa qualidade de vida no nosso país.
Posso assegurar que o que é possível fazer com os recursos hoje destinados à saúde está sendo feito. E, ainda, para citar o próprio ministro da Saúde, "não estamos mudando tudo, mas fazendo tudo para mudar".

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