São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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CPMF divide corretores da Bolsa de SP

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Democratizar o capital, sim. Cunhá-lo com objetivos sociais, não. Essa contradição entre o que a Bolsa quer fazer e o que está disposta a aceitar aflorou na semana passada, dividindo opiniões no mercado paulista de ações, o maior do país, com movimento de R$ 5,7 bilhões neste mês.
Corretores e banqueiros de investimento aplaudiram a campanha da privatização democrática, lançada pela Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) no início do mês. No entanto, condenaram a incidência da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) sobre as Bolsas, apesar do caráter eminentemente social do imposto, exclusivo para a área de saúde.
"Burro", "porcaria", "desastroso", "perverso", "inflacionário" e outros adjetivos impublicáveis foram usados pelos executivos do mercado financeiro para definir o novo imposto, aprovado em primeiro turno pela Câmara.
Polido, o presidente da Bovespa, Alfredo Rizkallah, em férias na Europa, disse que a CPMF é tecnicamente imperfeita e pode diminuir a competitividade das Bolsas brasileiras diante das internacionais.
A alíquota de 0,2% -que teria transferido R$ 11,4 milhões neste mês para a saúde pública por conta das operações em Bolsa, estimando-se uma única incidência- é considerada muito alta pelos corretores. Equivale a um aumento de 50% no custo de uma operação, pois as corretoras cobram taxa de 0,4%, em média, pelos seus serviços de intermediação. Sem contar os emolumentos das Bolsas.
"O mercado vai perder liquidez para a Bolsa de Nova York", diz Cláudio Haddad, diretor do Banco Garantia. "A CPMF vai contra a redução do 'custo Brasil'."
O temor é justificado pelo fato de as ações da "blue chip" Telebrás serem negociadas no mercado dos EUA, por meio de ADRs (recibos). Com o imposto, seria mais barato operar Telebrás lá fora.
Mas a tese não é unânime entre os corretores -em que pese a concordância de que a CPMF é ruim.
David Gotlib, diretor da Linear Administração de Patrimônio, acha que há muito exagero nessas reações: "Nem todo mundo pode operar lá fora. E ainda tem muito papel que só pode ser negociado aqui dentro, com grandes lucros."

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