São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Profissionalismo nos Jogos é inevitável, vê Samaranch

ANDRÉ FONTENELLE
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

O presidente do Comitê Olímpico Internacional, o espanhol Juan Antonio Samaranch, está perto de conseguir um de seus maiores objetivos: pôr na Olimpíada todos os grandes atletas do mundo.
Desde que assumiu o COI, em 1980, Samaranch, 75, transformou os Jogos Olímpicos de um evento estritamente amador (ainda que esse amadorismo fosse burlado) em uma competição quase inteiramente profissional.
Nesta entrevista, concedida por fax, Samaranch diz que ainda não sabe se será candidato a mais um mandato, para dar prosseguimento a essa política.
Matreiro, o dirigente "esconde o jogo" e é evasivo nas perguntas mais polêmicas.
*
Folha - Os Jogos de Atlanta serão os maiores da história, como afirmam seus organizadores?
Juan Antonio Samaranch Torello - Sim, pelo menos pela presença dos 197 comitês olímpicos nacionais, um recorde absoluto.
Folha - Como o sr. avalia o trabalho até aqui realizado pelo Comitê Organizador dos Jogos de Atlanta (Acog)? O comitê não conseguirá obter lucro, e algumas obras estão atrasadas, entre outros problemas.
Samaranch - O Acog está fazendo um excelente trabalho para levar a termo a organização dos Jogos do centenário. Estamos confiantes em que eles serão um verdadeiro sucesso para os desportistas do mundo inteiro.
Bill Payne, o presidente do Acog, fez um ótimo trabalho. Estamos plenamente satisfeitos.
Folha - A ameaça do terrorismo, que atingiu alguns países no começo deste ano, o inquieta para os Jogos de Atlanta?
Samaranch - Ninguém está a salvo das ameaças terroristas.
Mas os meios postos à disposição para fazer frente a elas pelo governo norte-americano são muito grandes.
Estou convencido de que eles saberão garantir a segurança dos atletas, das autoridades e de todos os espectadores que irão a Atlanta durante os Jogos.
Folha - O sr. insistiu para que o beisebol aceitasse profissionais nos Jogos. Acredita que o futuro do movimento olímpico está no profissionalismo?
Samaranch - O objetivo dos Jogos Olímpicos é reunir os melhores atletas do mundo inteiro. Os atletas que praticam o esporte de alto nível já são profissionais. É uma realidade incontestável.
Folha - Os esportes que não conseguem se adaptar a essa mudança estão ameaçados de desaparecer do programa olímpico?
Samaranch - É um grande debate para o futuro. Os esportes são incluídos no programa em função do número de países em que são praticados e do interesse que suscitam entre os jovens.
Folha - A participação de mulheres nos Jogos será a maior da história (cerca de 35%). O sr. pretende que chegue a 50%?
Samaranch - Como o senhor sabe, muitos progressos foram feitos em matéria de esporte feminino desde 1900, data em que elas participaram pela primeira vez das Olimpíadas.
O programa olímpico inclui, atualmente, um grande número de esportes e de modalidades femininas, e a prática do esporte em todos os níveis abriu-se em geral às mulheres.
Resta, no entanto, fazer ainda muitos progressos nessa área.
O COI se comprometeu a trabalhar para que o esporte feminino seja promovido em todos os países ao mesmo patamar do esporte masculino e para que mais mulheres possam ter acesso a cargos de responsabilidade no seio dos órgãos de decisão das estruturas esportivas.
Um grupo de trabalho foi, além disso, criado para assegurar o seguimento dessa política, e várias propostas nesse sentido serão feitas na sessão do COI em Atlanta.
No fundo, é um problema de sociedade, não apenas do movimento olímpico.

LEIA a continuação desta entrevista com Juan Antonio Samaranch, presidente do COI, à pág. 4

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