São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jogo provou que o momento é de Ronaldinho

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Se futebol é momento -como costumava dizer o técnico Rubens Minelli-, o momento é de Ronaldinho. E o jogo de ontem contra a seleção da Fifa comprovou isso.
Seja pela falta de melhor preparo físico, seja porque se ressinta da pressão que a sombra crescente de Ronaldinho está exercendo sobre ele, o fato é que Sávio não rendeu em quase uma hora de jogo o que rendeu Ronaldinho em cinco minutos. Mas não é só isso: a simples presença de Ronaldinho encorpa o ataque brasileiro, tão fluido com Sávio.
E isso ficou ainda mais evidente no primeiro tempo, quando criamos inúmeras chances de gol, esvaídas na ausência de um finalizador.
*
Rivaldo deu ontem dois passes para Bebeto -o do gol e o que foi disparado rente à trave- que deveriam figurar numa antologia de passes, de Romeu a Zico, passando, claro, por mestre Ziza, Jair Rosa Pinto, Didi e Gérson.
*
A reabertura do Morumbi foi uma festa, no mínimo, emocionante, com aquele reencontro do gramado renovado -um tapete, como deveriam, por sinal, ser todos os nossos campos- com os velhos ídolos, alguns dos quais nem sequer chegaram a desfilar seu talento nesse mesmo chão.
É o caso, por exemplo, de Noronha, o Cobrinha, assim chamado pelos movimentos serpeantes que executava ao cobrar o lateral. O mesmo Noronha que formou com Bauer e Rui uma linha média histórica e que foi escorraçado do São Paulo em 1951, logo após a perda do tri paulista para o Palmeiras, sob as sombras da suspeita infundada de que havia sido o responsável pelo gol que deu o título ao mais feroz inimigo da época -um lançamento mágico de Jair Rosa Pinto para o veloz Aquiles, de breve passagem pelo futebol.
A presença de Noronha, no sábado, na festa, é, pois, uma mensagem de paz e confraternização do tricolor até com os fantasmas de seu passado.
*
Por falar nisso, curioso é o fato de o São Paulo, mesmo sendo o mais jovem dos nossos grandes, talvez ser o que mais cultue a tradição, o passado, a ponto de ter sido o único a criar um museu em suas próprias dependências.
É como se tivesse nascido com essa nostalgia, quem sabe uma saudade genética do Paulistano, que lhe deu origem. Tanto que, no próprio hino do clube, composto pelo saudoso Porfírio da Paz pouco tempo depois da fundação, está uma forte alusão às "glórias do passado". Que passado, se o clube mal havia sido inventado?
Quem sabe já não estivesse aí o traço mais marcante desse São Paulo, que olha para o futuro, na esperança de lá encontrar seu passado glorioso?
Foi assim com o próprio Morumbi, que se renova. Pode ter sido assim com os versos que se personificaram, no sábado, no desfile dos velhos ídolos.
*
Quanto ao futuro mais próximo, o empate com a Dinamarca, por 1 a 1, deu dois sinais eloquentes: esse time tem bala para surpreender, mas Parreira vai ter de trabalhar a cabeça da moçada, que se desestrutura muito facilmente, como ocorreu logo após o gol de empate inimigo.

Texto Anterior: Profissionalismo nos Jogos é inevitável, vê Samaranch
Próximo Texto: Crer para ver
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.