São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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COMO O AR

Nos 12 meses findos em junho último, o IGP-DI (Índice Geral de Preços, Disponibilidade Interna) registrou a mais baixa variação dos últimos 38 anos. O Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) prevê que em 1996 a inflação ficará entre 15% e 18%. A média desses números é inferior às taxas dos últimos 25 anos. Seria igualada apenas à inflação anual de 1976, que foi de 16,5%.
Como a pureza do ar, cujo valor só a poluição faz lembrar, é natural que a estabilização dos preços receba cada vez menor atenção. A inflação é dramática quando está descontrolada. Quando cai, o país parece ter mais com o que se preocupar. Por mais compreensível que seja, porém, não seria saudável uma acomodação em face dessa conquista ainda precária.
Trata-se de um grande sucesso que, há pouco mais de dois anos, quando os preços subiam 40%, 50% ao mês, poucos se arriscariam a prognosticar com segurança.
Podem-se apontar equívocos na política cambial e fortes exageros nas taxas de juros, erros pelos quais o país está pagando caro. Ainda assim, o saldo mostra-se claramente positivo. Não se deve descuidar portanto das reformas econômicas necessárias à consolidação do plano. São mudanças cujo andamento tem sido preocupantemente insatisfatório.
Nesse sentido, ressalte-se que o tempo para ajustar o Estado torna-se cada vez mais escasso. Já não se pode, por exemplo, ignorar o descontentamento com as elevadas taxas de desemprego. A demanda por crescimento tem ganho intensidade e amplitude, alcançando empresários, sindicalistas e lideranças políticas.
Tudo isso aumenta o risco de que a sociedade comece a resvalar em armadilhas de cunho populista, em tentativas de alcançar o impossível, prometer o infactível, conduzindo o país a mais uma desilusão.
Os mais recentes dados e previsões sobre o comportamento da inflação mostram o sucesso do Plano Real. Mas é preciso persistir.

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