São Paulo, segunda-feira, 15 de julho de 1996
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Caráter reflete a tragédia das ocupações

JANIO DE FREITAS
DO ENVIADO ESPECIAL À GRÉCIA

Os gregos acham que são gregos. Acreditam que se mantiveram como o mesmo povo ao longo dos milênios, desde a Grécia Antiga.
Até poderia ser assim, não fosse verdade que a Grécia, inventora da tragédia como arte, viveu uma tragédia histórica sem igual: as ocupações dominadoras do seu território, algumas durando séculos, sucederam-se da Antiguidade até o século 20. A miscigenação era inevitável.
Aquele perfil em que o alto da testa e a ponta do nariz se unem por uma reta inclinada, o perfil que as gravuras nos fazem dar como a cara típica dos gregos, é bem mais raro na Grécia atual do que as fisionomias lembrando turcos otomanos, italianos do sul, búlgaros e alourados traços da Europa Central.
Desses todos, o jeitão dos gregos atuais se parece mais com o dos italianos, provável resultado da longa presença italiana no solo grego.
Os gregos, como os italianos, falam por uma combinação de voz, braços, mãos e rosto.
O que parece ser uma briga minutos antes do assassinato inevitável, são dois gregos conversando amistosamente, ou é apenas um casal de amantes.
Não é à toa que a Grécia é o país dos gatos, os mais barulhentos dentre todos os amorosos.
Caráter grego
Uma definição simples do grego que se encontra nas ruas, nas lojas, na condução urbana: é uma pessoa sisuda, levando uma garrafa de água. O clima muito seco, mas nem por isso desagradável, justifica o hábito da garrafinha.
É uma idéia a ser adotada também pelo turista, sobretudo durante excursões.
A economia de sorrisos não é só com os estrangeiros. Reflete um traço de temperamento, sem dúvida. Mas, se não é incomum notar certa impaciência com estrangeiros mais solicitantes de atenção, isso é próprio de todos os que recebem grandes e incessantes levas de turistas.
O turista é um chato, na visão de norte-americanos e europeus, por mais que o turismo seja uma fonte fundamental de renda, como se dá na Grécia.
Em compensação, os gregos atuais proporcionam ao turista duas realizações que são obra sua, não as devem aos antepassados. Ambas particularmente agradáveis aos brasileiros.
A primeira é o sentimento de segurança que você pode ter, dado o índice baixíssimo de assaltos. A outra é estar livre de visões chocantes: vê-se pobreza, mas pobreza nutrida e vestida direito, e não se vê miséria.

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