São Paulo, sábado, 20 de julho de 1996
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Populismo sofre ataque inteligente

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Os economistas habituados aos debates acadêmicos sobre economia internacional conhecem muito bem o trabalho de Paul Krugman. Os estudiosos de relações internacionais também tiveram, nos últimos anos, várias oportunidades para conhecer as idéias de Krugman: ele começou a publicar em revistas como a "Foreign Affairs".
O caminho do acadêmico em direção a um grande público se completa com a publicação de "Pop Internationalism", que reúne trabalhos dos últimos anos. Seu desafio pode ser resumido como uma resposta inteligente às tentações populistas de um mundo cheio de políticos e economistas que acreditam em "blocos" econômicos e "guerras comerciais", tratando esses assunto um pouco como os gurus da administração tratam de "downsizing", reengenharia e modismos do gênero.
O próprio Krugman, explicando as razões para se lançar rumo ao público mais amplo, adverte que ele não é um "ortodoxo" e está plenamente consciente das limitações da teoria tradicional do comércio internacional.
Mas, diante da propagação incansável pela mídia de idéias absurdas, ele se viu na condição de relembrar princípios básicos, clássicos mesmo, necessários se a idéia é preservar um mínimo de racionalidade nas políticas econômicas.
Uma das idéias fundamentais é a de que um país, uma economia, não se confunde com uma empresa. Os níveis "macro" e "micro" respondem a lógicas (e até à falta de lógica) segundo perspectivas completamente distintas e, às vezes ,incompatíveis.
Assim, faz sentido dizer que uma empresa vai sumir do mapa se não conseguir reduzir custos, modernizar-se, investir em novas tecnologias etc. Mas países, economias, não somem do mapa. Para Krugman, tratar da competitividade dos países da mesma forma como se fala da competitividade de empresas é uma "obsessão perigosa". Sua consequência mais nociva é o recurso ao protecionismo ou a políticas industriais excessivamente intervencionistas.
O "excessivamente" aí é fundamental. Krugman não nega a necessidade de pensar o comércio internacional estrategicamente. Apenas alerta para a enorme dificuldade de tornar essa visão mais precisa e o mais imune possível ao que pode ser um lobby setorial travestido de interesse nacional.
A lição é atual e relevante para os países em desenvolvimento. Os casos de sucesso, em especial na Ásia, mostram que o comércio estratégico ou administrado não se confunde com o protecionismo.
Mas o ensinamento vale para os EUA também: num dos capítulos mais brilhantes do livro, Krugman analisa com elegância as idéias de Laura Tyson, atualmente chefe da assessoria econômica do presidente Clinton. Ele mostra como, nas palavras da própria autora, os benefícios reais de opções estratégicas no comércio exterior podem ser bem difíceis de demonstrar.

A OBRA
Pop Internationalism - Paul Krugman. The MIT Press (Cambridge, Massachusetts; London, England), 221 páginas. O livro pode ser encomendado à Livraria Cultura, em São Paulo -tel. (011) 285-4033-, por R$ 32,63.

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