São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Déficit dos Estados Unidos é crônico

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Em nenhum país a idéia de déficit público crônico é tão evidente como nos EUA. E também em nenhum outro a tese de que a prioridade da política econômica deve ser a redução do déficit público pode trazer mais problemas que soluções.
O tema é avaliado numa perspectiva de longo prazo por Frederick C. Thayer, professor-visitante da área de administração pública da George Washington University, na edição de abril do American Journal of Economics and Sociology.
Segundo Thayer, desde 1791 a dívida nacional americana aumentou em 112 anos e diminuiu em 93 anos. Dos anos de orçamento equilibrado e redução de dívida, 57 estiveram concentrados em seis períodos.
Ao longo desse intervalo de tempo, houve também seis períodos em que ocorreram significativas depressões econômicas. Cada período de administração austera do orçamento foi imediatamente seguido por uma depressão significativa. Thayer diz que até hoje nunca houve exceção histórica a esse padrão.
Desde 1920-30, não ocorreu nenhum período de austeridade orçamentária sustentada (veja o gráfico). Também não ocorreu nenhuma depressão. Agora que se fala muito em redução do déficit e que o próprio Clinton fez dessa uma de suas prioridades, a questão é inevitável: haverá mesmo austeridade e virá outra depressão?
Ou seja, a total coincidência histórica que os números mostram é apenas uma coincidência, um mito, ou algo para ser levado a sério nas discussões sobre o papel da redução do déficit público nas políticas econômicas?
Para Thayer, o debate americano reflete hoje muito mais a concorrência entre democratas e republicanos que qualquer teoria razoável sobre como deveria mesmo ser tratada a questão fiscal nos EUA.
Para Thayer, há muito de "desonestidade intelectual" em jogo. Em poucas palavras, ele alerta para o erro de se falar em déficit por si mesmo, sem levar em conta as condições produtivas em que ele ocorre ou deixa de ocorrer.

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