São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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O melhor ou o pior para a CEF

LUÍS NASSIF

É prematuro condenar antecipadamente a operação de venda da carteira imobiliária do Bamerindus para a Caixa Econômica Federal. A CEF poderá fazer o pior ou o melhor negócio de sua vida. Tudo depende do preço que for fixado para a carteira.
O Bamerindus deve à CEF um total estimado em R$ 1,5 bilhão. E dispõe de uma carteira de clientes que lhe pagam mensalmente prestações de financiamentos já concedidos. Ele se propõe a pagar a dívida vendendo esses créditos que tem a receber.
Grosso modo, o cálculo de valor deverá ser feito da seguinte maneira: 1) Levanta-se o fluxo de pagamentos dos mutuários no período de vigência da carteira.
2)Estima-se o valor real a ser recebido levando em conta, primeiro, as estimativas sobre os indexadores de prestação no período. Segundo, as estimativas de inadimplência. Terceiro, o percentual de contratos assinados antes e depois de 86. Aqueles assinados antes carregam saldos devedores que terão de ser bancados pelo FCVS (Fundo de Compensação das Variações Salariais).
3) A partir dessas contas, vai-se estimar o fluxo real de pagamentos a receber e os saldos residuais que serão de responsabilidade do FCVS -e que vão ser calculados com desconto, se até lá o BC não definir regras claras de resgate do fundo.
4)Calculado o fluxo de recebimentos, descontam-se esses pagamentos a valor presente, de acordo com o custo de oportunidade da CEF.
Explicando melhor: suponha-se que a carteira do Bamerindus represente um fluxo de recebimentos da ordem de R$ 100 mensais, por 120 meses.
Se a rentabilidade dos ativos da CEF for de 1% ao mês, digamos, primeiro ela calcula de quanto deveria ser a quantia que, aplicada àquela taxa de 1%, lhe proporcionasse receita mensal equivalente ao fluxo de pagamentos da carteira imobiliária do Bamerindus -no exemplo, de R$ 100 por mês durante 120 meses.
O valor seria de R$ 6.970,00. Esse será o valor base para início de conversa.
Para entrar em um novo negócio, o comprador vai exigir rentabilidade maior -isto é, uma redução do preço. As negociações se darão em torno da taxa de desconto. A 2% ao mês, por exemplo, o valor da carteira cairia para R$ 4.536,00 -um desconto de 35%.
A taxa interna de retorno é uma das variáveis de maior impacto sobre o preço. Todos os bancos de negócios no país trabalham com estimativas de longo prazo para a TIR. Logo, haverá parâmetros em abundância para balizar a taxa a ser negociada.
As demais questões a serem analisadas:
1) Como serão calculados os saldos devedores de responsabilidade do FCVS?
2) Qual o nível de inadimplência com que se vai trabalhar?
3) Qual a taxa média de reajuste das prestações, "vis-à-vis" as taxas de remuneração do capital?
Finalmente, deve-se levar em conta o potencial de atração de clientes. Ou seja, se os clientes da carteira passarão a pagar suas prestações nas agências da CEF, podendo vir a se tornar seus clientes ou não. Com R$ 1,5 bilhão na mão, a CEF faz negócios e ganha clientes, ampliando sua posição no mercado.
Por tudo isso, é temerário, a priori, taxar a operação de ilegítima ou lesiva à CEF. Poderá ser bom ou mau negócio, dependendo do preço a ser acertado.
Nacional 1
Se o Ministério Público Federal de Minas agir com firmeza, porém com parcimônia, sua decisão de intimar todos os ex-ministros da Fazenda e presidentes de Banco Central a prestar esclarecimentos sobre o caso Nacional poderá ser um divisor de águas.
A definição de responsabilidades será fundamental para que, no futuro, qualquer autoridade pense duas vezes antes de ceder a pressões políticas -como ocorreu com os casos Nacional e, especialmente, Econômico.
Nacional 2
O BC se recusa a fornecer peças do inquérito sobre Nacional e Econômico até à Comissão de Valores Mobiliários -órgão que tem funções reguladoras. A CVM está obtendo peças do inquérito nos processos e pelo Ministério Público. Trata-se de caso típico de ciumeira, indesculpável entre órgãos de fiscalização.

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