São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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Divórcio muda perfil da família americana

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Mulheres trabalhando, homens no serviço doméstico, casamentos e divórcios sucessivos e divisão de tarefas na criação dos filhos não são novidade para muitos.
Mas esse comportamento, que há algum tempo era encarado como exceção e até exemplo de "lar desintegrado", começa a ser considerado como o novo modelo de família, segundo pesquisas realizadas nos Estados Unidos.
"O divórcio, principalmente, passou a exercer uma função educadora nos relacionamento. E, quando se casam novamente, há uma tendência para que as pessoas tentem novas alternativas, dividam e respeitem mais", afirma a pesquisadora Katen Pyke, da Universidade da Califórnia, que entrevistou 193 homens e mulheres casados pela segunda vez.
Esse novo modelo estaria baseado num ideal de "casamento igualitário", onde todos têm direitos e deveres. As mulheres não exigem apoio financeiro, e sim ajuda no trabalho doméstico. Os homens, por sua vez, querem alguém para dividir as contas no final do mês.
A família como se conhece hoje -marido, mulher e filhos- é uma versão enxuta de modelos anteriores, quando outros parentes eram parte mais ativa do núcleo familiar, dizem os pesquisadores.
"Nos anos 90, esse núcleo pode estar crescendo novamente", afirma Pyke. Ela explica a teoria tomando como exemplo o ponto de vista de um filho de pais separados. "Há o pai, a mulher do pai, a mãe, o marido da mãe, os meio-irmãos e meio-avós, só para ficar no mais básico", diz.
Até a televisão norte-americana já assimilou essa realidade. Uma série que deve estrear em setembro tem como base uma dessas famílias, que mora em casas vizinhas.
Segundo estatísticas divulgadas recentemente, as mulheres encontram mais vantagens do que desvantagens na separação. Um número cada vez maior de mulheres diz que a felicidade, a vida doméstica e social e a sua função como mães melhoraram significativamente após o divórcio.
Apesar da conquista da independência financeira, é nesse setor, bem como nas oportunidades de emprego que a separação menos ajuda.
Segundo a pesquisa de Pyke, quando resolvem se casar novamente as separadas procuram o oposto do primeiro marido. "Nem sempre isso dá certo e, em vez de casamento igualitário pode se acabar numa simples troca de papéis", afirma.
No apartamento de Gladys Belten, 46, que trabalha em um banco de Nova York, a decoração e o cardápio do jantar são preocupações do marido, o arquiteto desempregado Louis, 43.
Em seu segundo casamento e sem filhos, Gladys é responsável pelo sustento da casa. "Como é muito caro ter empregadas, Louis cuida de tudo. Na verdade, ele gosta muito mais do que eu de preparar um bom jantar ou de manter nosso apartamento agradável."
Louis faz alguns trabalhos como free-lancer, segundo a mulher, "por motivos de satisfação pessoal". Já a mulher só atua esporadicamente na cozinha. Em seu primeiro casamento, a situação não era bem assim.
"Ele não gostava muito de dividir, de me ajudar. Acho que fiquei muito sobrecarregada, achando que dava mais do que recebia. Foi sim, um dos muitos motivos da nossa separação", afirma.
Quando conheceu Louis, ela conta que pensou muito antes de voltar a morar junto com alguém. "Já não era muito nova e tinha medo de cair na mesma rotina, mas com meu atual marido é tudo diferente", diz.

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