São Paulo, domingo, 21 de julho de 1996
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O paradoxo do Paradigma

CLÓVIS ROSSI

Lisboa - Thomas L. Friedman, colunista de assuntos internacionais de "The New York Times", fez, quinta-feira, belo resumo do estado do mundo em consequência da globalização. Diz que, por conta dela, seu trabalho o leva a tratar menos de guerras entre países e mais de conflitos entre perdedores e ganhadores econômicos dentro de cada país.
Porque "são essas guerras domésticas que, mais e mais, moldam os assuntos internacionais, da Rússia ao México e à Turquia".
Friedman chama de "O Paradigma" o conjunto de regras e padrões impostos aos países pela globalização.
"Quando um país abre-se para o mercado global e aceita O Paradigma, seus cidadãos com capacidades para tirar vantagem dele tornam-se os ganhadores, e aqueles sem (tais capacidades) tornam-se perdedores ou marginalizados", escreve.
Adiante: "Quando todos os partidos políticos (de um dado país) aceitaram basicamente O Paradigma, não há mais realmente muita diferença entre partidos de governo e de oposição".
É uma situação só parcialmente reproduzida no Brasil. Apagou-se, no país, a diferença entre, por exemplo, PSDB e PFL, porque ambos aceitam O Paradigma.
Para o Brasil, vale o parágrafo seguinte de Friedman: "Em muitos países, entretanto, há habitualmente um partido que concorre contra o Paradigma, oferecendo soluções populistas que considera capazes de desafiar a globalização ou amenizar suas dores".
Para Friedman, o paradoxo do Paradigma é que a expansão da globalização "cria mais e mais perdedores", quando a expansão da democracia lhes dá direito a votar.
O que Friedman não diz é que, como não há volta atrás na globalização, resta uma de duas possibilidades: ou o que ele chama de políticas populistas de fato amenizam a dor do Paradigma ou há o risco de retrocesso na democratização, em vez de sua crescente expansão.

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