São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Bibliotecas provocam doenças alérgicas

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Conselho Federal de Biblioteconomia denunciou ao Ministério do Trabalho que a situação de bibliotecas, museus e arquivos no país se tornou um problema de saúde pública.
A denúncia é baseada em 300 laudos médicos sobre bibliotecários, arquivistas e auxiliares que contraíram doenças alérgicas, neurológicas e respiratórias no local de trabalho.
Um dos laudos aponta que a bibliotecária Auta Maria Sales de Rezende, 52, foi aposentada por invalidez, com inflamação dos nervos das pernas.
A causa da doença, segundo o atestado, foi intoxicação causada pela dedetização da biblioteca da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto (MG). Ela trabalhou oito anos no local.
"Quase fiquei paralítica e levei três anos para provar que a doença foi contraída no ambiente de trabalho", disse ela, que hoje anda com a ajuda de uma bengala.
Nível de risco
Em Londrina (PR), o conselho apurou que sete profissionais contraíram doenças em uma biblioteca pública, mas temem fazer denúncia com medo de represálias.
Como os casos se espalham por todo o país, a presidente do Conselho Federal de Biblioteconomia, Zeneide Pantoja, propôs a criação de uma norma de conforto ambiental para bibliotecas, museus e unidades de informação.
O objetivo é evitar principalmente que o uso abusivo de agentes químicos possa causar maiores problemas também aos usuários.
"O grande perigo para bibliotecários e pesquisadores é a dedetização", afirma a bibliotecária Maria Lúcia Moura, autora da norma de conforto ambiental enviada ao Ministério do Trabalho.
Para ela, os usuários também correm o risco de contrair doenças com o manuseio de livros desinfetados por agentes químicos.
Maria Lúcia quer também aumentar de dois para três o nível de risco em que a profissão é classificada pelo Ministério do Trabalho.
"A nossa profissão oferece um risco semelhante ao do cortador de cana-de-açúcar, o que a sociedade ainda desconhece", afirma ela.
O secretário-adjunto de Segurança e Saúde no Trabalho, Paulo Andretta, frustrou as reivindicações das bibliotecárias.
"Não podemos fazer uma norma para uma profissão nem temos poder de polícia contra o poder público, onde estão 75% dos bibliotecários e arquivistas", disse.
Segundo ele, o ministério pode interditar a biblioteca de uma empresa, mas nada pode fazer com relação às bibliotecas públicas.
Uma alternativa apontada pelo secretário é a inclusão da exigência de conforto ambiental nos estatutos dos servidores públicos.

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