São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Veneno dá paralisia em bibliotecária

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Bibliotecas da cidade histórica de Ouro Preto (a 90 km de Belo Horizonte), em Minas Gerais, guardam um perigo escondido ao lado de livros e documentos antigos. São os inseticidas usados para evitar o ataque de traças e outros insetos.
Em 1988, essas substâncias provocaram paralisia na ex-chefe da biblioteca da Escola de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Auta Maria Sales de Rezende, 52.
Depois de trabalhar cinco anos nas bibliotecas da Escola Técnica de Ouro Preto e da Escola de Farmácia da Ufop, ela passou a sofrer uma paralisia da cintura para baixo.
Hoje, após ser tratada por médicos especialistas em várias áreas, Rezende continua sofrendo os males decorrentes da intoxicação. Ela precisa de uma bengala para caminhar e, no verão, surgem feridas em sua pele.
Os exames toxicológicos realizados por um laboratório de Belo Horizonte em 1990, quase um ano depois do surgimento dos sintomas, indicaram presença dos inseticidas BHC, DDT e Aldrin no sangue da bibliotecária.
Segundo o farmacêutico Jorge Barquete, que realizou os exames, os índices apresentados eram baixos porque ela estava afastada do trabalho havia sete meses.
Os exames mostravam que ela teve contato com essas substâncias, que podem ter sido absorvidas pelo manuseio de livros contaminados ou através das vias respiratórias.
Predisposição
"Em outras pessoas, esses mesmos níveis de intoxicação poderiam não afetar o organismo, mas seu organismo apresenta uma predisposição ao efeito de inseticidas", afirma o farmacêutico Barquete.
A bibliotecária foi aposentada em 1991 pela universidade, recebendo apenas um terço de seu salário.
Depois de recorrer dessa decisão, ela conseguiu, em 1994, que a universidade reconhecesse que a doença tinha origem profissional e a aposentasse com direito a receber o salário integral.
A bibliotecária ainda tenta conseguir, na Justiça, a diferença monetária referente ao período em que recebeu uma parte do salário, além dos adicionais pelo cargo de chefia, função que ocupava ao ficar doente.

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