São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Maciel desencava anos 60 em livro e peça

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

O diretor teatral e jornalista gaúcho Luiz Carlos Maciel, 58, considerado o "guru" da contracultura brasileira nos anos 70, época em que escrevia para o tablóide carioca "O Pasquim", promove agora uma volta intensiva ao cenário cultural nacional dos anos 60.
Lança, no final de julho, o livro "Geração em Transe - Memórias do Tempo do Tropicalismo". Em agosto, promove estréia no Rio da peça que está dirigindo, "Jango", único texto teatral deixado por Glauber Rocha.
Leia a seguir trechos da entrevista que Maciel concedeu à Folha, por telefone, do Rio de Janeiro.
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Folha - Além do livro, o que mais você tem feito?
Luiz Carlos Maciel - Estou dirigindo "Jango", o único texto para teatro do Glauber Rocha, para estrear dia 8 de agosto no Rio. Haverá 30 pessoas em cena, música, dança, uma superprodução.
Folha - Qual a intenção de "Geração em Transe"? É um livro de memórias, impressões, análise?
Maciel - Fundamentalmente é de memórias, mas tive a intenção, não nego, de não só narrar fatos de que me lembrava, mas de ter uma compreensão sobre o momento que eu vivia.
Folha - Qual foi sua preocupação em conceituar os movimentos da época, como o cinema novo, o tropicalismo, o teatro Oficina?
Maciel - Foi a de fornecer conceitos impressionistas, sem rigor científico ou acadêmico.
Folha - Por que você considera, em seu livro, José Celso o mais fiel à contracultura dos três personagens que você elegeu?
Maciel - Foi uma coisa em que ele se engajou mais profundamente. E que interessou muito Glauber e Caetano na medida em que aquilo era um fenômeno da época que viviam. O engajamento de Zé Celso está demonstrado até hoje, no novo espetáculo dele, "Bacantes". No episódio no Rio, em que Caetano ficou pelado, Zé Celso o obrigou a voltar um pouco aos seus momentos contraculturais.
Folha - Você foi rotulado de "guru da contracultura". Quem é mais contracultural: Zé Celso ou você?
Maciel - Ele. Apesar de eu ter ganho esse epíteto, minha aproximação com a contracultura foi jornalística, superficial.
Folha - Por que seu livro mostra a geração do desbunde sem tocar em temas caros a ela, como a libertação pelas drogas e pelo sexo?
Maciel - Porque guardei para um próximo livro. Glauber, Zé Celso e até Caetano são pré-desbunde. O verdadeiro só aconteceu no Brasil em 1969, quando Caetano estava indo para o exílio.
Folha - Caetano concordou com a publicação das cartas que ele lhe enviava do exílio?
Maciel - Sim, mandei cópias para ele e ele curtiu demais. Disse que era divertidíssimo ler uma coisa escrita há tanto tempo.
Folha - Você foi crítico -até transcreve uma discussão com Jorge Mautner e Caetano em torno da crítica, que teve um papel importante na época. Que fim levou a crítica no Brasil?
Maciel - A crítica era interessante na nossa época, à medida que era aliada à revolução cultural que os artistas estavam liderando. Era uma força auxiliar dessa revolução cultural. Hoje não há revolução cultural. E a crítica se limita a um exercício de poder mesquinho.
Folha - Por que você diz no livro que não se considera um homem de teatro completo, que sempre namorou com ele mas ele nunca quis se casar com você?
Maciel - Falei no caso do teatro, mas não me considero completo em coisa nenhuma, como jornalista, escritor, homem de TV.
Folha - Sua narração mostra que você esteve por trás de momentos cruciais da gênese de Glauber, Zé Celso, mesmo de Caetano. Você é um homem de bastidor ou é seu ego se manifestando?
Maciel - Se não falar de mim no meu livro, vou falar onde? Isso foi uma coisa que aconteceu, eu apenas mostro. Acho que não é ego, é para dar informações úteis.
Folha - É um livro saudosista?
Maciel - Não tenho saudade nenhuma. Se acharem que é saudosismo eu dar importância a esses fatos, paciência.

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