São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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Chandralekha debate valores com a dança

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A dançarina e coreógrafa indiana Chandralekha é uma das atrações do 6º Festival Internacional de Artes Cênicas, que começa em São Paulo no próximo dia 17 de agosto. Aos 67 anos, esta estrela da dança clássica indiana bharatanatyam é considerada hoje uma transgressora em seu país. Em contrapartida, é artista "cult" na Europa.
Pioneira da nova dança indiana, Chandralekha recusou valores tradicionais de seus país, como a religiosidade e o patriarcado. Dos preceitos clássicos da dança indiana, conservou apenas a sensualidade e os movimentos fundamentais.
"Contar histórias de deuses é uma imitação falsa. É essencial resgatar os valores fundamentais capazes de nos revelar o verdadeiro significado da dança", diz.
A seguir, trechos da entrevista concedida por Chandralekha, que falou à Folha por telefone de Madras, cidade indiana onde nasceu e vive até hoje.
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Folha - Por que você resolveu contestar os valores patriarcais de sua cultura?
Chandralekha - Ainda vivemos em uma estrutura patriarcal onde todas as decisões são tomadas por homens e, obviamente, eles estão nos levando ao desastre.
Na verdade, o que eu contesto é o conceito de poder. Quando me refiro a patriarcalismo não estou falando sobre homens, mas sobre a estrutura patriarcal. Acho que tais estruturas e hierarquias fazem da mulher um ser subordinado e é isto que temos de questionar.
Não acredito em igualdade nos relacionamentos. Creio que as mulheres são primordiais por natureza. Acredito na primazia das mulheres.
Folha - Você se considera uma feminista?
Chandralekha - Simplesmente apóio as mulheres, não acho que eu seja uma feminista. Sou uma dançarina e vivo como alguém que tem preocupações sobre tudo o que acontece ao seu redor.
Folha - Qual o seu conceito sobre tradição?
Chandralekha - Para mim, tradição é algo que flui constantemente. Não é uma coisa estática, que possa ser congelada.
Folha - Seus encontros com coreógrafos modernos ocidentais, como o norte-americano Merce Cunningham e a alemã Susanne Linke, exerceram influências em sua dança?
Chandralekha - A dança ocidental não está presente em minha dança. Cunningham e Susanne foram pessoas com as quais me relacionei e deles guardei apenas influências humanas.
Admiro em Cunningham a maneira como ele se relacionou artisticamente com John Cage e ainda, hoje, como realiza parcerias com pintores, arquitetos, músicos. Susanne também pensa a dança de forma muito especial.
O que há em comum entre todos nós é a abordagem diferente de cada um, o pensamento próprio que cada um tem sobre arte.

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