São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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ANALFABETOS

O juiz eleitoral de Itapetininga impugnou 20 de 80 candidatos a prefeito ou vereador das cidades de Itapetininga, Sarapuí e Alambari (interior de São Paulo e relativamente próximas à capital) pela simples razão de que não conseguiram ler e entender corretamente um texto publicado em jornal infantil. E isso no Estado mais rico da União, o que leva a imaginar o que deve ocorrer nas imensas regiões menos desenvolvidas do país.
Isso significa que 25% dos candidatos testados foram considerados analfabetos. Erros gramaticais não foram levados em conta, apenas a capacidade de compreensão de um texto simples escrito.
Parece mais do que óbvio que, sem negar a conquista democrática que representou o direito de voto para o analfabeto, para exercer funções executivas ou legislativas é necessário pelo menos poder ler e compreender um texto. De outra forma, quem exercerá o poder de fato será um assessor sem nenhum mandato eletivo, ou seja, ferindo o princípio da delegação popular do poder.
Infelizmente, o Brasil está ainda muito longe de atingir os níveis minimamente desejáveis de erradicação do analfabetismo. Em que pese o sucesso de alguns poucos projetos isolados, o número de brasileiros que não sabem ler -e isso segundo os pouco rígidos critérios do IBGE- é pouco inferior a 25%, ou seja, quase um quarto da população do país.
Como indicam diversos estudos dos mais variados organismos multilaterais, o investimento em educação é acima de tudo um investimento na melhoria das condições de vida do país, seja em termos de produtividade como em termos de desenvolvimento humano.
O fato de até as pessoas que almejam cargos eletivos como prefeito ou vereador serem incapazes de compreender o que está escrito num jornal infantil mostra o quanto o Brasil ainda tem a fazer no campo da educação básica. Revela também o quão imatura ainda é a jovem democracia brasileira.

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