São Paulo, segunda-feira, 22 de julho de 1996
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A entrevista

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Com algum atraso, comentarei a entrevista que FHC concedeu a Roberto D'Ávila em seu retorno à TV.
O grande mérito do entrevistador é técnico: ele conhece a fundo o assunto de sua entrevista, seja o tema ou o personagem. A maioria dos profissionais do setor limita-se a ler as fichas preparadas pela produção e, no geral, acabam falando mais do que os entrevistados.
Roberto tem intimidade com o que faz, fica à vontade e deixa o entrevistado à vontade, seja ele um ditador como Fidel Castro ou um artista como Fellini. Sobretudo, não interfere nas respostas de forma polêmica, tampouco se limita a levantar a bola para que o outro corte à vontade.
No caso de FHC, havia uma certa expectativa ideológica, pois Roberto interrompeu sua carreira de jornalista e durante algum tempo exerceu cargos e funções na vida pública, notabilizando-se (honradamente) pela sua lealdade a Leonel Brizola.
Justiça seja feita, também, ao presidente da República, que encarou a entrevista, digamos, tecnicamente. Em geral, ele fica à vontade diante das câmeras, adora dar entrevistas, reconhece que uma de suas componentes é a vaidade, assumindo-a de forma paradoxalmente humilde.
Entrando no conteúdo. Qualquer político, sobretudo quando no poder, ao dar uma entrevista torna-se um malabarista na arte (ou na necessidade) de esconder a verdade, ainda que ela seja óbvia.
Há uma cena em que Jimmy Durante rouba o elefante de um circo, está indo embora com o animal quando a polícia o surpreende e o acusa de roubar o elefante. Abrindo os braços na tentativa de esconder o elefante, dez vezes maior do que ele, Jimmy pergunta: "Que elefante?"
Assim foi a entrevista de FHC. Passou sinceridade e até mesmo modéstia. Daí que se pode suspeitar que o seu problema é escolher melhor as companhias.

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