São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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O direito à esperança

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Embora se diga um "rústico", Luiz Marcos Suplicy Hafers, o presidente da SRB (Sociedade Rural Brasileira), dá lições de sensibilidade política ao governo FHC, exatamente o que se considera tudo menos "rústico".
Na entrevista publicada ontem por esta Folha, Luiz Hafers diz, por exemplo: "Se você está desesperado, sem emprego, sem educação, e vem alguém com uma bandeira vermelha e lhe dá esperança, você vai atrás. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) foi o único que deu esperança a essa gente".
Perfeito. Primeiro, por "dessatanizar" o MST, movimento que visivelmente não conta com a simpatia da SRB.
Para quem se fez adulto vendo o reacionarismo de dirigentes da SRB, uma das entidades que conspiraram para depor o governo constitucional de João Goulart, em 1964, seria até surpreendente. Só não o é porque seus líderes mais recentes já vinham mostrando outra face, concorde-se ou não com as posições que defendem.
Mas Luiz Hafers vai além do problema da terra. A sua frase sobre a esperança é uma lição de política. É evidente que uma parcela substancial da sociedade, principalmente aquela "sem emprego e sem educação", de fato imagina que o governo, qualquer que seja, tem a obrigação de resolver todos os problemas logo ao tomar posse.
Mas uma outra parcela, não menos substancial, quer apenas o direito de ter esperança. Se um governo lhe acena com uma bandeira (vermelha, verde, amarela, branca, roxa, de que cor for), vai atrás, sim, como vai atrás do MST.
Mas é preciso, claro, que, atrás da bandeira, haja algo mais consistente do que a demagogia de promessas vazias.
É assim que se faz política. Voltando a Luiz Hafers, "gente que vê TV sabe que o mundo é melhor do que estão lhe prometendo". E quer sua fatia nesse mundo melhor. Por bem ou por mal.

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