São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 1996
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Novos rumos do ensino privado

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO

A Folha, em matéria publicada no dia 20 de junho, destacou para os seus leitores a proposta de profissionalização da administração da UMC (Universidade de Mogi das Cruzes). Se não é ainda uma prática corrente entre as instituições de ensino, essa tendência deverá ganhar força nos próximos anos, como já ocorre nos países mais desenvolvidos.
Após a Segunda Guerra Mundial, a demanda do ensino superior se multiplicou tanto nos países desenvolvidos como também nos países em desenvolvimento. Durante os últimos 30 anos, no Brasil, o número de estudantes cursando o ensino superior passou de 100 mil para 1,5 milhão.
Em consequência disso, a oferta de vagas também cresceu, mas houve uma alteração do perfil do ofertante. Com a crise do Estado acentuada a partir da década de 80, a proporção de vagas oferecidas pela iniciativa privada vem aumentando desde então. Hoje, mais de 60% das vagas oferecidas pelo sistema de ensino superior do país são do setor privado, sendo que, no Estado de São Paulo, esse número salta para 75%.
O consequente desenvolvimento dessas instituições transforma antigas faculdades em universidades de grande porte, algumas com mais de 10 mil alunos. Dentro dessa realidade -organizações de grande porte e aumento da concorrência-, empreendedores de maior visão percebem a necessidade de dotar as instituições de uma administração mais profissional, capaz de responder aos novos desafios.
É importante ressaltar, porém, que as instituições de ensino, se comparadas às empresas privadas em geral, apresentam características específicas, que, em certa medida, diferenciam sua forma ideal de gerência. Seus clientes diretos -os alunos- transformam-se em "produtos" para os clientes indiretos -a sociedade como um todo. O insumo é a informação, e o processo produtivo é executado por meio da relação humana e da busca individual pelo conhecimento.
Sendo assim, a qualidade desse "produto" tem um alto componente subjetivo e intrínseco que não deve e não pode ser rejeitado. Pelo contrário, por meio desse processo, deve-se buscar a qualidade em todos os cursos de graduação e pós-graduação, na pesquisa e na extensão.
Mas, além da busca pela qualidade da informação específica, há um fator de diferenciação que ainda é, de certa forma, pouco valorizado pelas universidades brasileiras, apesar da importância crescente que vem adquirindo neste final de século: a formação complementar.
O avanço tecnológico e os novos meios de comunicação universalizaram o saber que hoje é compartilhado, instantaneamente, pelos pesquisadores de todo o planeta. Dentro desse novo contexto, algumas ferramentas ganham nova importância na formação do aluno de terceiro grau. O recém-formado que vai para o mercado de trabalho deve saber comunicar-se e manipular com desenvoltura os instrumentos envolvidos nesse processo.
Por esse motivo, uma boa formação tem que estar associada ao conhecimento de línguas (prioritariamente o inglês, por ser o idioma científico universal), à desenvoltura na comunicação oral e escrita da língua pátria (o português) e à intimidade com os instrumentos modernos de comunicação (a informática).
Outra medida importante, principalmente nas grandes instituições -no intuito não só de melhorar a formação dos alunos, mas também de contribuir com o desenvolvimento nacional-, é a formulação de estratégias viáveis, dentro das realidades institucionais e orçamentárias de cada uma, da criação ou implantação das atividades de pesquisa e extensão.
Para tanto, deve-se ampliar o número de convênios com instituições nacionais e estrangeiras e buscar financiamento para bons projetos junto às agências de fomento à pesquisa. A participação do aluno nesses projetos e seu convívio em um ambiente voltado à produção do conhecimento são fundamentais para a sua boa formação.
Portanto o que se deseja com a profissionalização é, além de dar mais agilidade e eficiência à gestão universitária, aperfeiçoar seu desempenho acadêmico, capacitando-a a responder aos novos desafios que as rápidas transformações da sociedade vêm apresentando ao ensino superior em todo o mundo.

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