São Paulo, sexta-feira, 26 de julho de 1996
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Um dia de fúria no caos de Atlanta

MAURICIO STYCER

1. Caro e perigoso
No hotel, cuja diária custava US$ 35 antes dos Jogos e agora custa US$ 120, o torcedor toma café-da-manhã correndo risco, porque a Vigilância Sanitária não tem fiscais para checar toda a rede de hotelaria.

2. Porta fechada
Para chegar ao centro de Atlanta, é importante passar pelo acesso da rodovia 75 antes das 7h30. Nesse horário, a polícia fecha essa passagem, obrigando o motorista a um desvio de 3 km.

3. Labirinto
Duas dezenas de ruas foram fechadas para veículos, obrigando os motoristas a fazer voltas e mais voltas para andar 300 ou 500 metros. Há congestionamento de veículos das 8h à 0h, todo dia.

4. Preço extorsivo
Depois de tanto congestionamento, o torcedor chega perto do Georgia Tech, local das competições de natação. O estacionamento mais próximo, a uma quadra do estádio, custa US$ 30.

5. Brigar é preciso
Quando localiza seu lugar, o torcedor percebe que ele está ocupado por um jornalista, já que a organização dos Jogos não reservou vagas sufientes. É preciso brigar para fazer valer seu ingresso.

6. Sanduíche milionário
A fome aperta e o torcedor quer um lanche. Opção mais barata: US$ 3 por um cachorro-quente e US$ 2,50 por uma Coca. Por um sanduíche maior, de rosbife, o desembolso será de US$ 6,50. Cerveja? US$ 5.

7. Montanha de lixo
Ao sair do Georgia Tech, o torcedor passa por um batalhão de pessoas distribuindo folhetos. Anúncios de restaurantes, folhetos de ONGs e muito mais papelada produzem toneladas de lixo.

8. Atrasado e apertado
O torcedor acaba optando pelo metrô, curiosamente apelidado de Marta. O problema é que o Marta não aguentou também a demanda e enfrenta superlotação e atrasos de até 25 minutos.

9. Motoristas estressados
Cinquenta motoristas contratados pela organização dos Jogos para guiarem os ônibus que levam jornalistas e atletas abandonaram o emprego. Estão estressados de tanto se perderem na cidade.

10. Preços muito extorsivos
O torcedor chega ao Georgia Dome, dividido em dois para abrigar o basquete e a ginástica. Ingressos, só com cambistas. Ginástica: de US$ 200 a US$ 500. Jogo do Dream Team 3: US$ 1.000.

11. Simpáticos e incompetentes
Há cerca de 40 mil voluntários nos Jogos. Pessoas de todos os Estados dos EUA e até do exterior, mas a maioria não teve treinamento, não sabe resolver problemas básicos nem dispõe de informações sobre Atlanta.

12. Poltronas no céu
Outro torcedor comprou o ingresso mais barato para ver o basquete: US$ 16, sem ser jogo dos EUA. A cadeira fica a cerca de 250 metros da quadra. Os espectadores se sentem roubados.

13. Nem protege nem informa
O torcedor pede informação a um guarda e este o encaminha a um voluntário que nada sabe. Há 30 mil policiais na cidade -número insuficiente para impedir que um homem armado assistisse a abertura dos Jogos.

14. Falta tudo
Ao terminar o dia, o torcedor passa num mercado para comprar o jantar. Falta leite nas prateleiras. E as pessoas comentam a possível falta de água e luz que pode acontecer nos próximos dias. E boa noite.

Jornalistas enfurecidos
De qualquer local de competição, os ônibus que conduzem os jornalistas são obrigados a levá-los até um centro de transporte, de onde os jornalistas são obrigados a pegar um segundo ônibus para o centro de imprensa. Perde-se em média com essa operação de 15 a 20 minutos.

A preocupação com a segurança é tão grande que chega a ser ridícula. Dentro do centro de imprensa, por exemplo, sempre que um jornalista ou fotógrafo se desloca de uma área para outra, precisa submeter a sua credencial a um novo controle magnético. Em um dia, uma credencial pode ser checada 10 ou 20 vezes.

O sistema de informatização de resultados dos jogos, criado pela IBM, ainda não está funcionando direito, uma semana depois de iniciada a Olimpíada. Empresas que pagaram para utilizar o sistema estão pedindo reembolso à IBM.

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