São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Seminário discute nova estratégia das empresas

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

A globalização, a abertura e a estabilização da economia impõem duas questões: até onde as empresas podem ser condutoras da política de desenvolvimento e como enfrentam as mudanças, para garantir sua própria sobrevivência.
O livro "Estratégias empresariais na indústria brasileira" consolida a reflexão de vários economistas sobre esses desafios, a partir de seminário na Universidade Federal do Rio. Se o tema não é inédito, a discussão -após a venda da Metal Leve- é atualíssima.
Na introdução, o economista Antonio Barros de Castro (um dos organizadores) situa as divergências em torno do modelo que elegeu as experiências do Leste Asiático (guiadas pelo mercado), em contraposição ao padrão latino-americano (o poder público induzindo decisões das empresas).
Para Castro, prosperou a noção de que os males das economias resultavam de decisões equivocadas dos governantes. Minimizava-se a responsabilidade dos bancos internacionais e omitia-se a ação dos mecanismos de realimentação e propagação inflacionária.
Supõe-se que as empresas, diante dos preços corrigidos pela abertura, privatização e desregulamentação (e redução de privilégios), irão rever suas posições.
As empresas, revida Castro, "se estruturam de maneira a assegurar posições de longo prazo nos mercados que mais lhes interessam". E as que aí estão "nunca foram fantoches da política e jamais serão autômatos do mercado", adverte.
No Brasil, a recessão e a abertura detonaram um movimento de mudanças. Adotando expedientes de toda ordem para proteger o seu patrimônio, as indústrias não tiveram condições de acompanhar a renovação trazida pela automação flexível e pelos novos produtos que começavam a chegar ao mercado.
Empresas reagem motivadas por ameaças e/ou oportunidades. Suas estratégias serão sempre diferenciadas. As pesquisas apontam ações defensivas (corte de pessoal, redução de custos) e modernizantes (atualização dos padrões de gestão e produção).
Os depoimentos sugerem que esse esforço de modernização partiu de uma base precária. "Essas deficiências vêm de longa data e parecem ser consequência de uma gestão despreocupada com eficiência produtiva, em função de um ambiente regulado, concentrado e com baixo nível de competição."
A adesão às novas técnicas de gestão surgiria "mais como forma de diminuir as gritantes ineficiências", na esperança de sobreviver em um ambiente de competição.
O livro realça dois aspectos saudáveis. Ao lado de uma "racionalidade da sobrevivência" (maior preocupação com educação dos trabalhadores, qualidade e prazos), as mudanças que nascem no interior das empresas estimulam um processo de colaboração.
A terceirização e a cooperação com fornecedores e clientes (e até mesmo entre concorrentes) fazem surgir um novo modelo de empresa (embora as relações entre empresas, no Brasil, sejam caracterizadas por um alto nível de conflito, como observa Victor Prochnik).
Rogério Valle sugere a difusão de uma cultura técnica, socialmente abrangente, que prepare os trabalhadores para a informática e combata sua exclusão social.
A urgência de políticas industriais para gerenciar a transição para um novo padrão competitivo é destacada por Mário L. Possas.
A década de estagnação custou empobrecimento e perda de oportunidades. A abertura e a reestruturação têm custado desemprego estrutural, concentração de renda e poder econômico. "Que não se perca outra década resistindo às mudanças", recomenda Possas.

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