São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Sendero Luminoso busca força política

PHIL DAVISON
DO "THE INDEPENDENT"

Durante 23 horas e meia por dia, Abimael Guzmán, líder do Sendero Luminoso, antes conhecido como "presidente Gonzalo" ou "quarta espada do marxismo", fica sentado em uma cela de 3,2 m2, sem janela, em uma base naval de Callao, nos arredores de Lima.
Durante a outra meia hora, o prisioneiro número 1.509 pode andar pelo pátio, acompanhado apenas de seus guardas. Ao que se sabe, ele nunca recebeu visitas desde que foi condenado à prisão perpétua, há quase quatro anos.
A sua única manifestação desde então foi uma carta que mandou, em outubro de 1993, ao presidente Alberto Fujimori, pedindo a paz e incentivando seus seguidores a abdicarem da violência.
O significado daquela carta só está ficando claro agora. Ninguém no Peru duvida de que os guerrilheiros, apesar de ataques esporádicos, tenham sido derrotados pelo Exército de Fujimori.
Desde a carta de Guzmán, entretanto, o grupo começou um ressurgimento político subterrâneo e ganhou terreno conforme a popularidade de Fujimori começou a cair e a inflação voltou a crescer.
"O Sendero deixou de ser um fator de instabilidade. Eles já não são mais uma ameaça à segurança nacional, como antes de 1992", diz o jornalista José Arieta. "Mas agora eles estão envolvidos em uma campanha de camuflagem, construindo uma base política nas universidades, sindicatos e bairros."
Documentos
Para especialistas, o grupo, agora comandado por Oscar Ramírez Durán, ou "camarada Feliciano", não tenha agora mais que dois "batalhões" de cem homens armados cada, nas regiões andina e amazônica. Mas o Sendero ainda tem milhares de simpatizantes ativos e controla áreas isoladas.
No último fim-de-semana, 80 guerrilheiros armados ocuparam as cidades de Cayumba Chico, San Miguel, Chaupiyuncay e Paujil Pampa, no vale do rio Huallaga. Eles organizaram "assembléias populares" e tentaram recrutar novos soldados antes de deixar os povoados, horas depois.
Um documento secreto da polícia de 24 de junho de 1996, obtido pelo "The Independent" nesta semana, dizia que o Sendero estava planejando ataques contra membros das Forças Armadas, polícia e guardas de segurança privada, para conseguir armas.
Um documento manuscrito do Sendero, obtido pela emissora de TV Canal Dois, detalhou um recente encontro de uma das células do grupo no bairro de Horacio Zevallos, em Lima. Ficou claro que Guzmán, a quem eles se referiam como presidente M2 -Mao Tse-tung é o presidente M1 -ainda é o líder do "guerra popular" (como é conhecido o Sendero).
O documento listava como objetivos um ataque a uma cisterna da capital e trazia a sigla TMS -trabalhar com as massas, no jargão senderista. "Precisamos entender como elas trabalham, sem armas."

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