São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Solução para a crescente demanda

MAURÍCIO CHERMANN

O ensino superior no Brasil deve continuar sua trajetória de expansão, seja por meio da criação de novas universidades ou de novos cursos.
Verificando a população brasileira na faixa etária dos 18 aos 24 anos, observamos que apenas 15% estão cursando o terceiro grau. Muito pouco para um país com pretensão de ingressar no grupo daqueles classificados como desenvolvidos. Na mesma faixa etária, mais de 80% dos estudantes frequentam a universidade na Coréia do Sul, e 60%, nos Estados Unidos. O número de universitários brasileiros encontra-se estagnado, há dez anos, em torno de 1,5 milhão de estudantes.
Estando o governo em campanha para recuperar o ensino básico, seguramente teremos, em breve, um aumento na demanda para o ensino superior.
Se, entretanto, mantivermos os atuais números de cursos e vagas, nem o Estado nem as universidades particulares terão capacidade de atender aos egressos do ensino de segundo grau, a não ser que se inicie, rapidamente, a criação de novas universidades.
Para ter uma idéia do que isso representa, se houver, atualmente, um incremento de apenas 1% -muito modesto se comparado a outros países em desenvolvimento- no número de estudantes que se destinam ao terceiro grau, o sistema universitário brasileiro entraria em colapso.
É necessário, portanto, que o governo inicie imediatamente a autorização de novas universidades, uma vez que, entre o processo de solicitação, criação e início de funcionamento das mesmas, decorrerão alguns anos até que elas consigam comprovar bons índices de qualidade no ensino, pesquisa e extensão, em estrutura física, laboratórios, biblioteca, corpo docente, entre outras coisas. Uma universidade com qualidade não se cria da noite para o dia.
A nova Lei de Diretrizes e Bases da educação nacional, em tramitação na Câmara, introduz um outro modelo de universidade, a exemplo do que ocorre em países como Japão e Estados Unidos, em que a instituição pode estar vocacionada apenas para uma determinada área do conhecimento humano.
Essa talvez seja uma boa maneira de facilitar a criação de universidades, observando criteriosamente a proposta e a qualidade do projeto, devendo, após a autorização para o funcionamento, ser periodicamente submetidas à avaliação do poder público.
Se o governo, como vem divulgando, não possui condições para realizar novos investimentos no ensino superior, uma das soluções seria a formação de parceria com as instituições particulares, auxiliando-as na melhoria da qualificação dos seus docentes -já que 74,38% das entidades de ensino superior existentes no Brasil e 56,63% dos cursos de graduação estão nas escolas privadas-, permitindo ainda que as entidades particulares invistam, por sua conta e risco, na criação de universidades ou ampliação das existentes, o que muito contribuiria para ajudar a resolver o problema da demanda para o ensino superior, que ora se avizinha.

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