São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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CATÁSTROFE TECNOLÓGICA

A dor e a perplexidade diante da explosão do vôo 800 da TWA apenas aumentaram, ontem, depois de um primeiro exame da caixa-preta do avião. A gravação é subitamente interrompida. Ainda não é possível saber as causas do acidente.
À parte o esforço para marcar presença junto aos familiares enlutados, o presidente Clinton dirige uma atenção especial à mídia. Aproveitou o dia de ontem para anunciar medidas mais rigorosas de controle dos aviões, dos passageiros e das cargas. Tudo pela segurança.
Os dois fatos, a por enquanto inócua descoberta da caixa-preta e a aparentemente efetiva disposição do governo americano a aumentar a vigilância sobre aeroportos, aviões e passageiros, são contraditórios. Na atitude de Clinton, afinal, está implícita a crença numa falha de segurança, ao garantir um número maior de inspeções manuais em bagagens e cargas. Em sua declaração, o presidente faz questão de dar ênfase à hipótese de "ato criminoso", alertando que outras medidas serão tomadas se a hipótese for confirmada.
A rigor, o mundo todo (e com razão, frente aos inúmeros atos terroristas dos últimos anos) parece naturalmente inclinado à hipótese de ato criminoso. Ao mesmo tempo, porém, toda essa predisposição torna-se visivelmente exagerada, senão paranóica, diante do fato nu e cru de que a caixa-preta não trouxe evidências em favor desta hipótese.
A sociedade atual, em especial a norte-americana, parece ter uma profunda aversão à hipótese de catástrofes, erros ou falhas puramente tecnológicas, apesar das evidências, também numerosas, nesse sentido. Basta lembrar da explosão de um ônibus espacial em plena decolagem, alguns anos atrás.
Uma falha humana e mesmo um ataque terrorista continuam como hipóteses plausíveis. Mas é preciso, de qualquer modo, estar alerta também para os riscos da crença cega na perfeição da tecnologia que nos rodeia e, em boa medida, nos domina.

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