São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Lições a Cavallo

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Inflação baixa é um seguro definitivo para a popularidade dos responsáveis por ela, certo? Errado, responde a Argentina.
Nos 12 meses até junho, os preços caíram 0,1%. Não obstante, Domingo Cavallo, o ministro que inventou o plano que levou a inflação a rastejar abaixo do solo, caiu ontem.
Por quê? Por duas razões interligadas:
1 - A crise mexicana de dezembro de 1994 ricocheteou poderosamente na Argentina e fez o país mergulhar em uma recessão profunda. A economia retrocedeu 2,5% no ano passado.
2 - A recessão, com o cortejo de quebras de empresas e de aumento de um desemprego já insuportavelmente elevado mesmo no período de bonança, enerva os candidatos à sucessão do presidente Carlos Menem, no próprio partido governista.
Nada melhor do que culpar o ministro da Economia e pedir a sua cabeça. Tarefa, de resto, facilitada pelo fato de que o desemprego só fez crescer, mesmo com a explosão econômica pós-estabilização, obtida em abril de 1991.
Chegou a um recorde de 18,6% da população economicamente ativa, em maio de 1995, e está agora em 17%, conforme os mais recentes dados oficiais, divulgados no mês passado.
À medida que se dilui a memória dos duríssimos tempos de hiperinflação, passa-se, inexoravelmente, a valorizar outros elementos da realidade econômica, como emprego/desemprego, e não apenas a inflação muitíssimo bem comportada.
É uma alerta aos que, no Brasil, dão à estabilidade um valor excludente. Ela é, claro, prioridade um, mas não pode ser a única, ensina o episódio Cavallo.
Não deixa também de ser ilustrativo que as duas estrelas do modelo mal chamado de neoliberal (México e Argentina) capenguem agora, depois de terem sido considerados a quintessência da "modernidade". A vida real é um pouco mais complicada do que supõem os dogmáticos.

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