São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Atlanta

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A estrada de Viçosa a Mariana costuma ter intenso movimento. Apareceu apenas um ou outro carro ao longo do percurso. Era o horário do jogo entre Brasil e Nigéria, na quinta-feira, à noite. A Olimpíada exerce um poder mágico de atração. Mesmo as pessoas que habitualmente não se interessam por esporte sentam-se, nestes dias, diante da televisão para acompanhar os lances de vôlei, basquete, natação e outras competições.
O mundo em que vivemos está muito marcado por conflitos armados, sequestros, atos de terrorismo, desmandos morais e pela miséria de milhões de pessoas. Tudo isso vai criando uma sensação de impotência diante do mal que acarreta desânimo, tristeza, desiludindo o idealismo da juventude.
As cenas de Atlanta abrem nessa atmosfera pesada um espaço sadio em que se respira ar puro. Há valores profundos que emergem entre as corridas e jogos e nos fazem bem.
Ao contrário dos nacionalismos fratricidas, vemos as nações empenhadas numa competição pacífica na qual se misturam as delegações esportivas do mundo inteiro.
Caracteriza as Olimpíadas o respeito à dignidade de cada membro, superando diferenças entre países ricos ou poderosos e os demais. Um atleta de pequeno país africano concorre, em igualdade de condições, com a Alemanha ou os Estados Unidos e consegue até conquistar as primeiras medalhas.
No horizonte das competições de Atlanta há os traços e cores de uma sociedade igualitária em que todos têm os mesmos direitos e deveres.
Há um despertar para a solidariedade nos esportes que supõem cooperação entre os membros de uma equipe. A solidariedade se revela, também, como é natural, não só na torcida de todo o país pelos seus representantes, mas no reconhecimento do valor dos outros contendores e no aplauso dos que conseguem alcançar o prêmio.
Os atletas são jovens. Formam-se pelo esporte na ascese e tenacidade para pode alcançar os melhores resultados. Oferecem, assim, um forte estímulo a toda a juventude para que consiga o domínio de si, vença as resistências da inércia e a dependência do álcool e tóxicos.
Bandeiras. Hinos. Coreografias. Luzes. Fogos e uniformes coloridos. Tudo coopera para promover o ambiente de concórdia e alegria.
As Olimpíadas apresentam-se, assim, como uma festa universal em que homens e mulheres de todas as raças e culturas unem-se por um momento para celebrar a vida da grande família humana.
Essa união, embora efêmera, demonstra que é possível aproximar os povos e fazê-los caminhar juntos para um mesmo ideal. Precisamos alargar o espaço da solidariedade para que inclua a colaboração de todos na luta contra a fome e no empenho pela paz mundial.
A Olimpíada vai terminar. Fique no coração, entre outras lembranças, o gesto belo de tantos atletas que, ao vencerem, abraçavam e cumprimentavam os que perdiam. Atitude nobre e generosa. Serve de semente e símbolo para a sociedade fraterna, de respeito e estima entre todos, que o Evangelho de Cristo nos ensina a construir.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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