São Paulo, sábado, 27 de julho de 1996
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Compromisso com a qualidade

ARTHUR ROQUETE DE MACEDO

Defensores intransigentes que somos do ensino público gratuito e de qualidade, temos consciência da necessidade de coexistência de um sistema privado de educação superior.
No Brasil, o sistema privado é o responsável pelo oferecimento de cerca de 58,5% das vagas existentes. Esse fato ocorreu em virtude da formidável ampliação do setor a partir da década de 70, em função do aumento da demanda do ensino superior com a abolição dos exames de admissão ao então ginasial e colegial e a limitação dos investimentos no sistema universitário público.
Para ter uma idéia dessa expansão, em 1970 a rede de ensino particular abrigava 79.562 estudantes; em 1994, cerca de 941.152. Entretanto essa contribuição ficou quase exclusivamente na oferta quantitativa de vagas. Em termos de qualidade, sempre deixou a desejar, com as exceções conhecidas.
Estando a demanda por vagas no ensino superior privado praticamente estacionada, a prioridade agora é a melhoria da qualidade de educação na rede particular. Essa prioridade se impõe pelas transformações que ocorrem com velocidade cada vez maior num mundo globalizado em que o conhecimento se torna fator central de desenvolvimento.
Para isso, é preciso aperfeiçoar a estrutura curricular; dotar os laboratórios de equipamentos atualizados; montar bibliotecas com acervos representativos; e investir na qualificação do corpo docente, buscando uma maioria de mestres e doutores.
Diante desse quadro, a criação de novos cursos e, principalmente, de universidades (pela autonomia que possuem e devem continuar a exercer) tem que ser feita de forma criteriosa, objetivando a demanda social existente por vagas no ensino superior privado, as necessidades do país e principalmente a qualidade.
Somos contrários à criação indiscriminada de novos cursos e à instalação de universidades até que o Conselho Nacional de Educação Superior possa estabelecer: normas claras e precisas quanto às condições acadêmicas básicas para o funcionamento de uma instituição de ensino superior; e um programa de avaliação institucional abrangente que garanta a qualidade da educação tanto pública como privada. O país precisa de ambos os sistemas, mas é imprescindível que primem pela qualidade do ensino que ministram.
A maioria das universidades públicas já se encontra nesse padrão, sendo que algumas atingiram níveis de excelência compatíveis com os de países do Primeiro Mundo. Chegou a vez de o sistema privado começar a subir a escada da qualidade. Estamos à espera, e, ao que parece, há indícios de que essa meta está se constituindo numa das preocupações de dirigentes e mantenedoras da rede particular de ensino superior. Se isso ocorrer, teremos um avanço importante para o aprimoramento da educação superior no Brasil.

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