São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996 |
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Presidente precisa de 3 'bons anos' para tocar projeto político
CELSO PINTO
No caso deste ano, a tarefa não é tão complicada. Depois da enorme retração que durou até o início deste ano, não é difícil empurrar uma recuperação até outubro. O grande nó é saber qual o impacto que esse crescimento terá sobre as contas externas e como reagir a ele. Até muito recentemente, o governo estava bastante otimista. Mesmo sabendo que haveria uma deterioração na balança comercial, com a expansão exigindo mais importações, supunha-se que o dano seria limitado. Um déficit de até US$ 1 bilhão neste ano e de pouco mais de US$ 2 bilhões no próximo manteria o déficit global externo (em conta corrente) no limite de 2% a 3% do PIB, considerado prudente pelos mercados internacionais. O buraco seria facilmente financiável. Os resultados da balança, especialmente em junho e julho, desautorizam o otimismo inicial. O mercado já trabalha com um déficit comercial entre US$ 2,5 bilhões e US$ 3 bilhões este ano e de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões em 97. Mantidas as condições favoráveis no mercado internacional, continuará sendo um déficit externo financiável para o Brasil, mas acenderá um sinal amarelo. Dada a expectativa que haja um aumento nos juros americanos e uma correção para baixo nas bolsas internacionais, a tendência será de os investidores redobrarem a cautela ao investir em mercados emergentes. Os problemas com a Argentina apenas agravam esse quadro. O risco, portanto, seria o de o sinal amarelo passar a vermelho. Principalmente se a luz vermelha acender no ano crucial das eleições presidenciais de 98. Desde que ficou claro que a balança de 96 terá um déficit muito maior que o esperado, o BC mudou o discurso. O importante já não seria ter um déficit em conta corrente de 2% a 3% do PIB, e sim ter um "hiato de recursos" desse tamanho. "Hiato de recursos", expressão que não era ouvida desde a época em que Mário Henrique Simonsen chefiava a Fazenda, é o déficit em conta corrente menos a entrada de investimentos diretos. A tese por trás é que investimentos diretos produtivos são capitais mais estáveis e com menor custo (paga-se dividendos a médio prazo e não juros a curto prazo). Como este ano entrarão mais de US$ 8 bilhões em investimentos, haveria um grande espaço para um déficit não preocupante na balança. Por acreditar nisso, o BC acha que o roteiro econômico até o final do governo FHC pode ser traçado com tranquilidade: 1) redobrar a aposta na âncora cambial, reajustando o câmbio bem abaixo do Índice Geral de Preços; 2) ter as benesses de uma inflação cadente; 3) manter um crescimento razoável; 4) financiar o buraco externo com capitais mais estáveis. A Fazenda vê a possibilidade de um aumento no déficit comercial e em conta corrente externo com menos tranquilidade. A questão central é que, quanto mais perto da eleição de 98, mais instáveis estarão as expectativas do mercado. Se a isso somar-se um déficit externo muito alto, pode haver uma desestabilização às vésperas da sucessão, o que seria um megadesastre. Qual a alternativa? Uma seria acelerar o reajuste cambial, mas isso exigiria desaceleração econômica, para não virar só inflação, e um ajuste fiscal mais forte. Outra opção seria a de 95: frear a economia e reduzir o crescimento até deixar de criar déficits externos muito elevados. Nos dois casos, o pressuposto é um freio no crescimento. Aí entra a reeleição. Se o governo conseguisse, de fato, ganhar o direito à reeleição no fim do ano, após as eleições, abriria para si a opção de fazer ajustes na economia em 97 para poder entrar em 98 no melhor de sua forma. Se, contudo, a reeleição não decolar logo, as opções complicam. Se o governo se convencer que precisa ajustar o plano, talvez prefira fazê-lo em 97 e adiar a discussão da reeleição para 98. Sempre permanecerá, contudo, a enorme tentação de seguir adiante no mesmo rumo, ajustando apenas de forma pontual. Por exemplo: eliminando o ICMS sobre as exportações ou impondo mais tarifas às importações. Tudo depende do tamanho do desequilíbrio externo que a retomada do crescimento trará. Daí porque o mercado financeiro em peso não pára de fazer contas sobre a balança comercial. Texto Anterior: Como ficaria o ministério Próximo Texto: PFL terá candidato se reeleição não passar, afirma Bornhausen Índice |
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