São Paulo, domingo, 28 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pop à italiana

MARIANE COMPARATO

A cantora italiana Laura Pausini, que alcançou o estrelato com o hit "La Solitudine" e ganhou discos de platina na Espanha e Itália, lança novo disco em setembro. Diversificado, o novo trabalho traz três versões em português além de funk, rhythm'n'blues e as tradicionais melosas italianas, é claro.
"Nessa profissão não se pode trabalhar apenas pensando em vender discos: isso não funciona para sempre"
A cantora Laura Pausini, aquela do hit meloso e grudento "La Solitudine" -a mesma regravada por Renato Russo-, está de volta.
De olho no público brasileiro, seu novo álbum, "Le Cose Che Vivi", será lançado por aqui em setembro com três faixas em português.
A maior dúvida é: Laura continuará a cavar no veio da adolescente que escreve o nome do amado no caderno durante a aula de matemática?
A resposta é sim e não. Sim porque o single "Incancellabile" segue o exemplo dos musicais Disney, tipo "A Bela e a Fera". E não porque seu último trabalho surpreende justamente pela diversificação: há funk, rhythm'n'blues e até batida mediterrânea.
A lenta "Mi Dispiace", por exemplo, conta o desencontro entre uma mãe e sua filha. Pura chantagem emocional. A voz encorpada da italianinha emociona até os corações mais durões.
"Incancellabile" é uma das faixas com versão em português. Só tem um problema: a tradução errônea provocou pânico entre os produtores. De fato, a tradução correta seria "inesquecível": afinal, "você é incancelável (sic) para mim" lembra mais um compromisso ou uma compra incancelável do que a pessoa amada.
Maribel Schumacher, vice-presidente da área de marketing da Warner latino-americana, assegurou que buscarão uma solução para o problema. "Não posso acreditar que contratamos pessoas brasileiras de renome na área para que me traduzissem uma música de maneira equivocada."
Na Itália, as opiniões sobre La Pausini são diversas. "Os jornais italianos torceram o nariz para Laura, mesmo quando ela fez sucesso no exterior", conta Roberto, assessor do manager Alfredo Rapetti. Desde que surgiu a geração Lucio Dalla, a Itália sempre preferiu os "cantautori", isto é, cantores que compunham as próprias músicas e que não eram "pop".
E não se pode dizer que Laura se encaixe neste perfil. Ela surgiu em 93, quando venceu -aos 18 anos- justamente a instituição mais "careta", tradicional e enquadrada na indústria discográfica italiana: o famoso festival de San Remo.
De lá foi projetada para o mundo e chegou ao Brasil, onde pretende fazer shows em abril do ano que vem. "Me disseram que meu sotaque é muito carioca...", disse Laura à Revista.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida por Laura em Milão, na Itália.
*
O que a levou ao estilo romântico?
O primeiro álbum era um disco de teste, com músicas feitas sob medida para uma garota de 18 anos, que vivia aquele tipo de situação. No segundo, houve um pequeno crescimento, pelo fato de que já não frequentava mais a escola. Agora, com o terceiro disco, acredito que consegui mostrar como é realmente a Laura. As canções contam coisas da minha vida pessoal, meus desejos e expectativas.
No novo disco você se arrisca também a compor algumas músicas...
O único meio para me comunicar com as pessoas é por meio das canções. Mas sempre preciso de ajuda: eu sei o conceito, o que sinto, mas preciso de alguém que consiga tirar as palavras corretas da minha boca. Neste disco, há canções de amor ("Incancellabile", "Le Cose Che Vivi") que nunca teria conseguido escrever sozinha.
Por quê você mudou sua equipe de trabalho?
Nem Maratti, meu manager, nem Valsiglio, meu produtor, existem mais. Escolhi mudar o time: todos são jovens e amigos meus. Nessa profissão não se pode trabalhar pensando em vender discos: isso não funciona para sempre. As músicas deste novo disco nasceram todas em casa, jogando cartas, ou quando saía com amigos.
Não foi difícil tornar-se uma estrela da noite para o dia aos 18 anos?
Para mim o difícil foi conciliar os meus estudos com a promoção, aparições na televisão, entrevistas e gravações. Como já havia alcançado o meu sonho, que era ser cantora, não conseguia me concentrar mais nos estudos.
Sempre quis ser cantora?
Sim, mas não era uma obsessão. Tanto que entrei num concurso, fui mal, e havia decidido procurar outra profissão. Mas quando venci o festival de San Remo, realizei meu sonho de infância.
Por que escolheu cantar músicas em português?
Tive muito sucesso no Brasil, mas minhas músicas são mais conhecidas na versão italiana (nos países de língua espanhola só fazem sucesso as versões cucarachas). Me divirto muito cantando em outras línguas. Acho até que "Apaixonados Como Nós" (versão para "Due Innamorati Come Noi") ficou mil vezes mais bonita que as versões italiana e espanhola. Mas que língua difícil, não consigo dizer "coraçao"...
O que sabe sobre o Brasil?
Conheço mais músicas e cantores porque cantei muitos anos em piano-bares e porque há músicos que são mitos da história musical. Amo muito Caetano Veloso, Sérgio Mendes, Toquinho e aquele de nome comprido... Chico alguma coisa...
Chico Buarque de Hollanda...
Esse mesmo. Mas não conheço nada da música moderna brasileira.
Seu último trabalho tem ritmos variados e letras mais "adultas". Você se sente mais madura?
Madura talvez não seja a palavra correta, mas sim crescida. Vivi coisas nesses dois últimos anos que me fizeram contar as coisas deste modo.
Como você se sente no palco?
Acho muito difícil: é preciso haver sintonia entre os músicos para que o nível do disco seja mantido. É importante que quem esteja assistindo ao show sinta aquele arrepio. Quero que tudo saia perfeito. Sou muito "cabe... cabe..."
Cabeçuda?
Isso mesmo! Nunca lembro dessa palavra em português...

Texto Anterior: PATRÍCIA MELO
Próximo Texto: Repercussão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.