São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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O sal da terra

HELCIO EMERICH

A abertura do mercado nacional aos produtos importados está provocando uma série de transformações nos hábitos de compra e de consumo dos brasileiros.
No segmento dos produtos alimentícios, por exemplo, a dona de casa se mostra ao mesmo tempo perplexa e encantada não só com a quantidade de novas marcas agora a sua disposição nas prateleiras dos supermercados e lojas especializadas, como pela variedade de embalagens, sabores, combinações de ingredientes e de "acabamentos" que ela pode encontrar em produtos como sucos, biscoitos, embutidos, queijos etc.
É só voltar um pouco no tempo para lembrar como era pobre a oferta de sucos industrializados em um país que se orgulha da sua fruticultura (nos contentávamos com uma ou duas opções de sucos de tomate, abacaxi ou maracujá e olhe lá. Nem água de coco embalada existia).
É verdade que os fabricantes nacionais fizeram um razoável esforço para recuperar o tempo perdido e enfrentar a invasão estrangeira. Promoveram novos lançamentos, reformularam embalagens, mas é surpreendente que ainda hoje bons sucos como de banana ou mamão sejam importados.
Como aconteceu em outros países, os consumidores brasileiros estão agora voltando o seu interesse para os chamados alimentos básicos. O que se encontra nesse segmento, porém, ainda está longe da oferta disponível no varejo do Primeiro Mundo.
Produtores de arroz e feijão, para citar apenas dois exemplos, nunca se preocuparam em desenvolver conceitos de marca. Continuam numa vala comum de nomes calcados na origem familiar ou regional, embalagens antiquadas com layouts do tipo caseiro e oferecendo poucas alternativas para o comprador.
É o caso do sal, condimento milenar cuja composição não passa de uma prosaica combinação de 60% de cloreto e 40% de sódio (dependendo da origem e do processamento, pode ter também minerais como magnésio e potássio).
Pois, nos EUA e na Europa, você pode escolher, para começar, entre o sal de mesa (o mais comum, que costuma conter aditivos ou conservantes para evitar a ação da umidade), o iodado ou desiodado (com ou sem iodo), o "sea salt" (obtido por um processo especial de evaporação), o "rock salt" (em pequenos cristais não polidos), o "kosher" (em grãos, e assim denominado porque na tradição da dieta judaica ajudava a drenar o sangue das carnes destinadas à alimentação) e vai por aí afora.
Marcas? Há dezenas. Desde as linhas mais populares da Diamond Crystal e da Morton's (embalagens de 250 gramas custando de US$ 2 a US$ 3), passando pelas versões "naturebas" até aquele considerado "o caviar dos sais", o francês "Fleur de Sel", com aparência de flocos de neve, produzido nas costas da Bretanha e cujo potinho, também de 250 gramas, custa US$ 25. Quando será que os fabricantes brasileiros irão acordar?

Hoje, excepcionalmente, deixamos de publicar a seção Criação & Consumo

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