São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Para Scola, 'não basta uma câmera na mão'

ELAINE GUERINI
ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE

Qualquer um pode ter uma câmera na mão, mas poucos têm uma idéia na cabeça. Essa frase é do cineasta italiano Ettore Scola, 64, que participou do Fórum Nacional de Cinema - Cinema do Fim ao Começo, concluído anteontem em Porto Alegre.
O tema de encerramento do evento -uma promoção da prefeitura da cidade- foi "Ética e Estética". O crítico de cinema Amir Labaki, articulista da Folha, também participou do debate, realizado no auditório da Assembléia Legislativa.
"Um filme como 'Parque dos Dinossauros' pode alcançar um grande público, mas duvido que ele atinja o coração das pessoas", disse Scola, defendendo o cinema humanista. "Se não há honestidade intelectual ou clareza de idéias sobre o que se quer fazer e dizer, não há ética."
Scola contou que sua paixão pelo cinema começou aos 5 anos. "Minha mãe era louca por filmes e nos levava quase todos os dias. Na época, as cadeiras eram desconfortáveis e faziam ruídos."
Foi na infância que Scola aprendeu a encarar o cinema como se fosse uma religião. "Enquanto a Igreja Católica promete o paraíso aos que morrem, o cinema oferece duas horas de confronto com os nossos anjos e demônios em vida".
Durante o debate, o diretor ainda abordou a crise no cinema italiano. "Temos cerca de 800 salas de exibição no país, mas 80% exibem apenas produções norte-americanas. Os nossos filmes não têm espaço e muitos vão direto para a televisão."
Em sua exposição, Amir Labaki disse que, apesar de o cinema ter comemorado o seu 100º aniversário, o mercado brasileiro vive um retrocesso de 50 anos.
O crítico lembrou que o número de salas de exibição no país caiu de 1.600 (no ano de 1946) para 1.500 (95/96), sendo que a população aumentou de 45 milhões de habitantes para 157 milhões nesse período.

A jornalista Elaine Guerini viajou a convite da Paris Filmes

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