São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996 |
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"Ópera Rap" lança novo teatro de massa
DANIELA ROCHA
O grupo é o Núcleo Paulicéia, composto de oito atores, todos da periferia de São Paulo. Eles foram convidados para apresentar a ópera entre os dias 23 e 30 de setembro nas cidades de Hamburgo, Dortmund e Berlim, na comemoração dos 50 anos da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Antes de embarcar, o Núcleo estréia o espetáculo no próximo dia 2 de agosto no Auditório Caetano de Campos, em São Paulo. "Boca de Lobo 3", como diz o nome, é o terceiro espetáculo do Paulicéia. Inteiramente musicado, a ópera traz histórias trágicas e críticas dos dramas do povo brasileiro em ritmo de rap. Os temas das músicas circulam por qualquer cidade grande do Brasil: o abandono das crianças nas ruas, seu envolvimento com drogas, a violência da polícia e da elite social sobre os pobres. Ópera de massa Em 94, o Núcleo Paulicéia percorreu a periferia da cidade apresentando "Boca de Lobo 2". Ali, o diretor Joel de Oliveira descobriu que fazia uma nova mídia. "Levamos o rap ao teatro e unimos aos temas que o teatro tradicional não aborda. Levamos ao palco a negritude, o discurso e a dança da rua." Até ele ficou surpreso com o resultado. "Fizemos apresentações em Franco da Rocha, Itaquera, Perus, e facilmente 5.000 pessoas se reuniam para nos ver", afirma. Oliveira criou um estilo e lançou, por acaso, o teatro de massa, de multidão. "Descobri que falar dos problemas do povo brasileiro de outra forma fica chato e ninguém aguenta assistir a nada chato". "Boca de Lobo 3" é eletrizante. Os oito atores estão sempre em cena. Todos cantam e todos dançam -muito. Entre eles, dois microfones com fio são revezados. A coreografia é toda em street dance -misto de funk com aeróbica. As músicas têm batidas diferentes, algumas mais agressivas, outras mais melódicas, mas sempre com letras incisivas. "Os diálogos estão nas músicas. Cada ator assume vários personagens. Tem o mendigo que vira policial, que vira banqueiro. É como um bando de garotos na rua que brinca interpretando sua realidade, o que sentem e vivenciam", define Oliveira. Segundo ele, a ópera é panfletária porque a sociedade ainda assume uma postura imune aos dramas que assolam a população pobre. "A população precisa de alguém que trate dos problemas dela. Atualmente, a faixa intelectual do país acha que essa bandeira é 'démodé'. Mas nós não temos medo de tocar na ferida", afirma. O convite para ir à Alemanha veio a partir de um vídeo feito sobre a periferia de São Paulo. "O documentário passou na Alemanha e há cerca de um ano eles querem nos levar para lá", diz. Peça: Ópera Rap - Atitude e Inteligência - Boca de Lobo 3 Autoria: Joel de Oliveira e Naomi Ishii Torigoi Direção: Joel de Oliveira Elenco: Doris Silva, Zinga Laíla, Alexandre Werneck, Fernando Marcio da Silva, Radharani Fernandes Gabriel de Sousa, Marise Paixão, Wilamy Rita e Frankie Bruno Música instrumental: DJ Gilberto e DJ Gigio Letras: Joel de Oliveira Coreografia: Frankie Bruno Quando: estréia dia 2 de agosto, às 20h; de qui a dom, às 20h. Até 1º de setembro Onde: Auditório Caetano de Campos (r. Bueno de Andrade, 715, Liberdade, tel. 011/279-3419) Ingresso: R$ 6 Texto Anterior: Para Scola, 'não basta uma câmera na mão' Próximo Texto: Espetáculo muda rotina dos atores mirins Índice |
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