São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 1996
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Texto inédito de Plívio Marcos é lido pelo ator Marco Ricca

Folha vai promover leituras teatrais mensalmente

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"O Homem do Caminho", monólogo inédito do dramaturgo e escritor Plínio Marcos, 60, será lido hoje, pela primeira vez, em sessão pública pelo ator e diretor Marco Ricca, 33, para quem o texto foi escrito.
A leitura ocorre no auditório da Folha (al. Barão de Limeira, 425, 9º andar), a partir das 19h30, e inaugura o ciclo "Leituras de Teatro", que trará uma vez por mês textos inéditos de autores consagrados e jovens dramaturgos.
"O Homem do Caminho", segundo o autor, "conta histórias de um homem que não tem onde chegar, um 'caminheiro', que faz do movimento de caminhar um ato extremamente subversivo; é por isso que as pessoas têm tanto medo do homem que está na viagem, perambulando a esmo".
Aos que conhecem a obra e a figura de Plínio Marcos, é evidente o lastro autobiográfico da nova peça. "Talvez seja a peça mais pessoal dele, a mais próxima de tudo o que ele fala", diz Marco Ricca, que pretende estrear o monólogo em outubro.
Dizendo-se "nervoso" com a experiência de hoje, Ricca diz que fará apenas uma leitura "suave, reta, contando a história da peça", sem a preocupação de desenhar cenicamente seu personagem.
Desde que encenou "Dois Perdidos Numa Noite Suja", em 94, o ator mantém com Plínio Marcos um diálogo que ele faz questão de definir como assimétrico.
"Trato o Plínio como um mestre, mal consigo conversar com ele, eu o escuto quase de cabeça baixa", diz Ricca.
O protagonista de "O Homem do Caminho", embora assuma as figuras do pequeno trambiqueiro, do artista circense, do andarilho charlatão que passa de cidade em cidade, não deixa de aludir também à figura nômade de Cristo.
"Cristo era um homem do caminho, incomodava as pessoas, como não conseguiram enquadrá-lo tiveram que assassiná-lo", diz.
Ele não se importa muito com o fato de a crítica torcer o nariz diante da vertente mística de seu teatro, considerando-a menor em relação às primeiras peças, marcadas pela crueza estilística, pela obsessão em retratar sem nenhuma luz redentora a face mais degradante, mais asfixiante da marginalidade.
Além de "Dois Perdidos" (66), sua peça de estréia, "Barrela" (58), "Navalha na Carne" (67) e "Abajur Lilás" (70) são os textos mais significativos desse período.
Sobre ele, o crítico Anatol Rosenfeld escreveu certa vez que "Plínio viu que seria desumano humanizar o desumano, como seria inconcebível borrifar com a água de colônia das rimas ricas do parnasianismo um poema dedicado aos campos de concentração".
Plínio rejeita que tenha passado com o tempo de um teatro amargo e cruel para algo mais cômico e palatável. "As minhas peças sempre provocaram o riso. Quando você desequilibra o homem de seu sistema nervoso, ele sempre ri", diz.

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