São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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Dinheiro de fraude não é recuperado

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

Quase seis anos após estourar o escândalo das fraudes contra o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no Rio, o governo brasileiro ainda não fez no exterior qualquer trabalho sistemático para recuperar os recursos desviados pelos acusados para instituições bancárias de outros países.
O dinheiro bloqueado até agora -em contas nos EUA e Suíça, à espera de decisão judicial sobre sua volta ao Brasil- só foi descoberto por causa de uma denúncia à Embaixada do Brasil em Washington e de iniciativas do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Procuradores do INSS que investigam as fraudes avaliam que 60% dos cerca de US$ 600 milhões desviados -ou seja, cerca de US$ 360 milhões- estão no exterior, onde era feita a maior parte da partilha do dinheiro sangrado da autarquia. A parcela bloqueada é de pouco mais de 10% dessa quantia.
O advogado Ilson Escóssia da Veiga, que só em uma das fraudes (a da indenização a Alaíde Ximenes) desviou US$ 90 milhões, dos quais US$ 72,5 milhões enviou para o exterior, tem só US$ 15 milhões bloqueados.
Apesar das dificuldades para obter informações sobre o dinheiro depois que ele deixou o território brasileiro, jamais foram atendidos pelo governo pedidos para contratação de uma empresa especializada nesse tipo de rastreamento, para achar o dinheiro no exterior.
Estima-se que, além dos US$ 83 milhões em bens e dinheiro bloqueados no Brasil, o INSS e o governo conseguiram "congelar" no estrangeiro cerca de US$ 53 milhões em contas em nome de réus ou de seus testas-de-ferro.
Os recursos pertencem a Jorgina Maria de Freitas Fernandes, Francisco Antônio de Freitas Neto, Ana Nery de Freitas, Alaíde Ximenes, Nestor José do Nascimento, Ilson Escóssia da Veiga, Cláudia Caetano Bouças, Vânia Lazarini da Veiga e Carlos Caetano Bouças.
Jorgina, condenada pelo desvio de US$ 114 milhões, mantém contas no Merrill Lynch Bank de Miami, descobertas e bloqueadas depois que o serviço consular da embaixada brasileira em Washington recebeu uma denúncia contra ela.
A partir das informações, o embaixador Paulo Tarso Flecha de Lima conseguiu o bloqueio do dinheiro pela Justiça americana e pediu a extradição da fraudadora. Ela fugiu para a América Central.
Não se sabe quanto Jorgina e seus irmãos Francisco e Ana têm no Merrill Lynch -o total ficará sob sigilo até que a Justiça americana dê a sentença no processo em que o governo brasileiro pede o repatriamento dos recursos. O INSS espera mais de US$ 34 milhões.
As investigações sobre as ações de Jorgina nos EUA possibilitaram a descoberta de outras contas, em nome de Escóssia, sua filha Vânia, sua mulher Cláudia e seu sogro Carlos, no mesmo banco, com US$ 2 milhões.

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