São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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Paisagem canadense ganha exposição em SP

ANA MARIA GUARIGLIA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O fotógrafo carioca Guilherme Mallmann, 34, inaugura hoje a exposição "Killarney Park", na Li Photogallery, em São Paulo. A mostra reunirá 30 paisagens de uma das mais antigas regiões do mundo.
Com cerca de 3,5 bilhões de anos, o parque Killarney, no Canadá, a 700 km ao norte da cidade de Toronto, abriga em seu espaço várias cadeias de montanha de quartzo, emolduradas por mais de 90 lagos.
"É uma das paisagens mais impressionantes que já vi, um santuário de montanhas e lagos, refletindo a passagem do tempo", diz o fotógrafo.
As cadeias de quartzo praticamente "matam" as regiões lacustres, devido ao alto grau de acidez que expelem.
A chuva ácida, provocada pelos conglomerados industriais, também contribui bastante para a aridez do local.
O resultado desses fatores é um cenário selvagem, com lagos de água transparente, que atingem, em alguns pontos, a visibilidade de 28 metros.
A maioria das fotos de Guilherme Mallmann evidencia a superfície refletora dessas águas, espelhando as formas e as texturas das montanhas.
Fotos artesanais
O carioca Mallmann é, em sua essência, um fotógrafo de paisagens, e de paisagens em preto-e-branco.
Um tipo de fotografia pouco comum, que exige planejamento da iluminação e análise dos detalhes do ambiente.
Para fotografar cada cena do parque canadense Killarney, Mallmann levou mais de 20 minutos, justificados pela escolha do momento mais adequado em relação às condições metereológicas do local.
Seu requinte técnico está aliado ao processo artesanal do "Zone System", criado pelo fotógrafo norte-americano Ansel Adams (1902-1984).
No momento de realizar a foto, a luminosidade das imagens não é medida pelo seu todo, mas sim pela qualidade das sombras que oferece.
O negativo é sub-revelado, de modo que as sombras fiquem fortemente realçadas.
Em compensação, nas partes mais claras, a luz se define com precisão.
Surrealismo
Além de fotografar com filmes convencionais, Mallmann utilizou os infravermelhos em preto-e-branco, criando efeitos surpreendentes.
Com eles, a paisagem incomum de Killarney obteve texturas e reflexos imprevisíveis, de efeitos surrealistas.
O filme infravermelho faz a leitura das imagens de acordo com as radiações que elas refletem, atuando principalmente na vegetação.
As árvores escuras saem acentuadamente claras na foto. Já o céu e as nuvens, quase sempre claros, revelam nas imagens tonalidades bem escuras.
A produção do fotógrafo carioca Guilherme Mallmann é o resultado de estudos que estão sendo desenvolvidos há dez anos, iniciados em Toronto, no curso de graduação do Huber College of Arts & Technology.
Especificamente nessa série, o fotógrafo reproduz a sensação de dependência entre os elementos, que compõem o cenário do parque Killarney.
Mallmann realizou várias expedições pelos EUA. E pretende apresentar um trabalho do mesmo porte fotografando as paisagens brasileiras.

Exposição: Killarney Park
Onde: Li Photogallery (r. da Mata, 80, tel. 011/883-0300, bairro do Itaim)
Quando: Hoje, às 19h; de segunda a sexta, das 9h às 17h; aos domingos, das 11h30 às 17h; até 18 de agosto
Quanto: Entrada franca

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