São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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Eleições no pós-Cavallo

CLÓVIS ROSSI

Buenos Aires - A crise mexicana de 94/95 trincou o prestígio do modelo dito neoliberal. Viu-se que o príncipe encantado dos mercados abrigava um patinho feio, muito feio, em algum ponto de suas entranhas.
A demissão do ministro argentino da Economia, Domingo Cavallo, não deixa de acrescentar rachaduras na fé dogmática dos partidários do modelo. Mas o seu principal aspecto é político.
Começa pelo fato de que deve ser a primeira vez em 500 anos de história latino-americana em que um ministro da Economia é demitido quando os preços estão caindo, em vez de subir.
A estabilidade econômica vinha sendo (ou vem sendo) um extraordinário ativo eleitoral para os que a promovem. Foi assim na Bolívia, no Peru, no Brasil e, claro, na própria Argentina.
Só esse fato explica como Carlos Menem pôde se reeleger no ano passado, em plena tormenta gerada pelo "efeito tequila" e com um índice de desemprego recorde (maior ainda do que os já insuportáveis 17% de agora).
A queda de Cavallo, de alguma forma, parece o princípio do fim desse encantamento. Não que haja, solto pelas Américas, um bando de malucos prontos para cutucar os demônios da inflação e que tenham chances eleitorais. Não.
O teorema que está se formando é assim formulado por Rosendo Fraga, lúcido analista político do liberal "Centro de Estudos União para uma Nova Maioria" e assessor informal de Cavalo: "Hoje, na América Latina, não se pode ganhar eleições com inflação. No futuro, a questão é saber se se poderá ganhá-las só com a estabilidade", diz Fraga.
O futuro não é remoto. Rosendo Fraga imagina que as eleições que se realizarão entre 1998 e 2000, no Brasil, Argentina, Peru, México e Chile, darão a resposta à essa indagação.
Serão essas eleições que dirão se o século 21 começará ou não da forma como tende a terminar o século 20, sob a hegemonia de um modelo dito neoliberal.
Detalhe: a primeira dessas eleições será justamente no Brasil.

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