São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Coisa rara

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Semana passada registrava aqui o início da baixaria na campanha pela Prefeitura do Rio: xingamentos, acusações, atitudes de um gênero farto em época eleitoreiras.
Agora é preciso assinalar um evento raro, raríssimo, mas que também só ocorre às vésperas de eleição: os políticos estão subindo os morros do Rio.
Se arriscam pelas ladeiras das favelas para fazer promessas: asfalto, água, esgoto, melhorias.
Ou seja, tudo aquilo que provavelmente não será realizado ao longo do mandato quando este for conquistado. Vencido o pleito, a prioridade será, como sempre, a zona sul.
Tudo bem, o eleitor favelado já deve estar acostumado mesmo.
Para a maioria dos mais de 1 milhão de moradores de favelas do Rio, o governo só aparece por lá vestindo uniforme e de arma na mão.
Em vez de posto de saúde, escola, creche, saneamento, há tráfico, miséria, morte. Ok, há votos também...
*
Imagine você que mora em São Paulo uma mãe que caminha com sua filha de colo pela avenida Paulista.
De repente, duas gangues de office-boys se desentendem e passam a trocar tiros, em plena luz do dia.
Um dos tiros transpassa o corpo da mulher, matando-a, e acerta a filha, deixando-a terrivelmente ferida.
Pois é, foi mais ou menos isso que aconteceu semana passada no Rio, em plena praia de Copacabana, durante briga de duas turmas de futebol.
Visto de longe, parece impensável que isso possa ocorrer. Ainda mais na cidade que pretende sediar a Olimpíada de 2004.
Como bem disse o titular desta coluna, Carlos Heitor Cony, na bela entrevista publicada domingo pelo Mais!, "o Rio é mais nacional na medida em que tem mais os defeitos da nacionalidade".

Texto Anterior: Serra está tenso
Próximo Texto: O cavalo do português
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.