São Paulo, terça-feira, 30 de julho de 1996
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O PFL de São Paulo

ANTÔNIO CABRERA

A chegada do próximo milênio tem trazido de maneira intensa certas angústias ao povo brasileiro. Na virada do século, ainda temos que nos contentar com ilhas de desenvolvimento ao lado de imensos arquipélagos de pobreza.
Nesse exagerado desafio de alterar as estruturas da nação, o homem sente-se tentado a imaginar um governo que possa corrigir os desvios de uma sociedade tão injusta como a nossa. É sedutor ter um governo que seja exatamente o que o coração deseja, mas nesses momentos deveríamos consultar com maior frequência o livro de história.
O desafio de agora não é mais a luta de classes, mas o embate entre a sociedade e o Estado na definição do que queremos para o nosso futuro. Para os que ambicionam um Estado condutor de mudanças, a decepção é maior, pois, quando o Estado tem inúmeras tarefas, maior é a frustração entre os cidadãos.
O pior é que essas responsabilidades desempenhadas pelo Estado poderiam ser realizadas por setores privados. O papel do governo deveria ser apenas o de produzir ou de se envolver em atividades que ninguém tenha se aventurado a fazer. Trata-se não de uma discussão ideológica, mas de opção entre o moderno e o arcaico.
Nessa busca do modelo ideal do governo, pode ser que não tenhamos um caminho novo a apresentar, mas gostaríamos de imprimir um jeito novo de caminhar para esse amanhã. Uma maneira nova de andar em que o Estado, em primeiro lugar, fizesse o que milhares de famílias brasileiras já aplicaram no seu dia-a-dia: reduzir os gastos.
Nos últimos dois anos, comprometemo-nos a promover uma reestruturação completa no Partido da Frente Liberal no Estado de São Paulo. Entendemos que, no processo democrático, um partido é a única maneira de concretizar as aspirações populares que tanto almejamos, e por seu intermédio podemos apresentar nosso ideal de construir um país em que cada brasileiro nasça com a expectativa de se tornar um proprietário e não um empregado.
E não teremos acanhamento em promover a doutrina liberal, que assenta-se na liberdade de escolha do cidadão, pois somente indivíduos em liberdade podem produzir riquezas. E temos ideal maior de liberdade?
As críticas maiores ao sistema liberal vêm daqueles que condenam a ganância dos lucros fabulosos de grandes empresas. Não podemos ter receio de defender a palavra "lucro", pois a ética do lucro é a ética da descoberta.
Talvez esse medo infantil seja uma herança lusitana, pois lucro vem de "lograr", que significa enganar, fraudar, enquanto na raiz inglesa lucro vem de "profit", ou melhor, proficiente ou eficiente. Lucro não é a ação daquele que é amigo do governante ou que se abriga no protecionismo, mas, sim, do empreendedor eficiente e capaz de ganhar a aprovação do consumidor com um produto de qualidade.
Para a defesa de seus objetivos, o PFL fincou raízes em todo o nosso Estado, com diretórios definitivos em quase todos os municípios. E nesta campanha eleitoral estaremos desfraldando as duas principais bandeiras do PFL: emprego e educação.
Corremos o risco de nossas instituições democráticas não funcionarem a contento em uma sociedade pouco ou nada instruída. A necessidade de preparar uma geração de jovens que vai comandar o Brasil não permite que hoje se gaste com as dez maiores empresas públicas o equivalente ao triplo do orçamento anual do Ministério da Educação. Isso torna difícil a implementação de uma sociedade moderna.
Já a questão do emprego é o grande desafio do final do século. Os governos atuais serão julgados pela capacidade de responder de maneira ágil ao apelo de milhares de brasileiros desempregados. O futuro condena as funções repetitivas e abrirá novos postos aos homens que detenham conhecimento, o que explica a associação que o PFL faz do emprego com a educação.
Na realidade, o problema do desemprego é a lógica da falta de empregadores. E o motor desse desenvolvimento será o empresário e não o governo. Não podemos continuar na rota em que estamos, de apenas duas direções: ou contratamos com todas as proteções legais de um Primeiro Mundo ou contratamos sem nenhuma proteção, caindo na ilegalidade.
O PFL de São Paulo não fugirá aos seus desafios, pois entendemos que participar hoje não é apenas um direito, mas um dever. E as idéias novas ganham adeptos não porque seduzam os defensores das velhas propostas, mas porque com elas surge uma geração que as defende e com elas conquista o seu espaço. Esse é o nosso desafio, essa é a missão do novo PFL de São Paulo.

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