São Paulo, quinta-feira, 1 de agosto de 1996
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Kíssin faz show único em São Paulo

IRINEU FRANCO PERPETUO

IRINEU FRANCO PERPETUO; FERNANDO OLIVA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A apresentação do pianista russo, considerado um dos melhores da atualidade, será às 21h no Municipal

São Paulo recebe hoje um dos melhores pianistas do mundo. O russo Evgueni Kíssin faz apresentação única na temporada dos Patronos do Teatro Municipal.
Aos 25 anos, Kíssin começa a deixar de ser considerado um menino, mas continua um prodígio. Não se trata apenas de um dos maiores pianistas da atualidade: seus discos competem em pé de igualdade com as gravações dos grandes mestres do passado, como Horowitz e Rubinstein.
O garoto já dedilhava o instrumento da mãe, professora de piano, aos 2 anos de idade. "Comecei a tocar assim que pude alcançar o teclado. No começo, tocava só com um dedo", disse ontem em entrevista coletiva.
Tamanha era sua aptidão que Kíssin, aos 6, foi encaminhado para a Escola de Música Gnessin, voltada para crianças superdotadas.
Na Gnessin, conheceu Anna Pavlovna Kantor -até hoje, sua única professora. Kantor costuma acompanhá-lo em suas turnês. Nos ensaios, fica sentada na platéia, fazendo longas observações -respeitosamente acatadas por Kíssin- a cada compasso tocado pelo pianista.
Com falsa modéstia assumida, o pianista diz não se considerar um menino prodígio. "Música não é um esporte, onde avaliamos qual o melhor de todos."
Karajan
A maneira como aquele adolescente magro com cara de bebê interpretava mazurcas do compositor polonês era inacreditável.
Chamou logo a atenção do maestro Herbert von Karajan, que o convidou para registrar o "Concerto nº 1" de Tchaikovski com a Filarmônica de Berlim, em 1988.
Questionado sobre o momento mais marcante de sua carreira, Kíssin respondeu: "Quando toquei para Karajan, ele ficou tão emocionado a ponto de chorar".
No final dos anos 80, o maestro estava preferindo trabalhar com solistas jovens, como a violinista alemã Anne-Sophie Mutter e o violoncelista brasileiro Antonio Meneses.
Motivo: cansado de brigas com solistas de renome, o regente queria impor sua visão das obras sem enfrentar discussões.
Embora tivesse apenas 17 anos, contra os 80 de Karajan, Kíssin não escondeu suas divergências em relação aos tempos extremamente lentos do maestro, e a gravação foi um pouco tumultuada.
O cachê de Kíssin é tido como um dos mais caros da atualidade. Fala-se em US$ 35 mil para recitais na Europa e nos EUA -na América do Sul, dizem, não sai por menos que o dobro.
Morando nos EUA há quatro anos, o pianista não faz muita questão de reafirmar suas origens. Pelo menos musicalmente. "Música é uma profissão cosmopolita. Eu nasci e cresci na Rússia, mas não preciso estar ligado a qualquer tradição musical de meu país."
O programa de hoje, de qualquer forma, é o mesmo que ele já vem apresentando no chamado "Primeiro Mundo". Se entregue a um artista menos dotado, poderia até ser classificado de temerário, de tanto que exige do solista.
Abre com a ultravirtuosística transcrição de Busoni para a "Chaconne em ré menor", de Bach. E encerra a primeira metade com a conhecidíssima sonata "Ao Luar", de Beethoven.
Para a segunda parte, ele reservou quase o programa inteiro de seu último disco, lançado pela RCA Victor: "Fantasia op. 17", de Schumann, e três dos cinco "Estudos transcendentais", de Liszt.

Colaborou Fernando Oliva, da Redação

Concerto: Evgueni Kíssin (piano)
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nº, tel. 222-8698)
Quanto: de R$ 5,00 a R$ 80,00

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