São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Julgamentos de Lamarca e Marighella são adiados

WILLIAM FRANÇA
DANIELA FALCÃO

WILLIAM FRANÇA; DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Familiares querem que casos sejam analisados ao mesmo tempo

A decisão sobre o pagamento de indenização às famílias dos guerrilheiros Carlos Lamarca e Carlos Marighella, mortos durante o regime militar (1964-1985), foi adiada para o dia 10 de setembro.
Ontem, na reunião da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Ministério da Justiça, foram feitos pedidos de vista dos dois processos.
Isso suspende o julgamento para melhor análise da documentação. O presidente da comissão, Miguel Reale Jr., deferiu os dois pedidos.
Foi a tensão entre familiares dos desaparecidos e militares que acarretou os adiamentos. No caso Marighella, o pedido foi feito pelo general Oswaldo Pereira Gomes, representante das Forças Armadas -que anteriormente havia se manifestado pela indenização.
Com isso, a representante dos familiares, Suzana Lisboa, resolveu também pedir o adiamento da decisão sobre o caso Lamarca. Sua avaliação é que os dois casos devem ser julgados juntos.
A iniciativa agradou o governo, que queria evitar a todo custo que o julgamento sobre Lamarca (ex-capitão do Exército) acontecesse ontem. Já estava acertado que um representante ligado ao governo pediria vista ao processo.
A reunião durou cerca de duas horas e meia. Reale Jr. começou a votação pelo caso Marighella. "O clima emocional que cerca o caso Lamarca iria criar uma efervescência nos debates", disse.
O relator do processo Marighella, Luís Francisco Carvalho Filho, deu parecer favorável à indenização.
Em seguida, o general apresentou o pedido de vista. "Quero me aprofundar melhor", disse. A justificativa irritou a família do dirigente da ALN (Ação Libertadora Nacional), que esperava a conclusão do caso ontem.
Estratégia
Com a suspensão deste processo, Reale Jr. colocou sob análise o pedido de indenização de Lamarca.
O deputado Nilmário Miranda (PT-MG), que na reunião anterior havia pedido vista ao processo, se disse favorável à indenização.
Em seguida, o representante do Ministério Público, Paulo Gustavo Gonet Branco, e o general Gomes votaram contra a indenização.
O quarto voto deveria vir da representante dos familiares, que pediu vista. "Esperava que os dois fossem julgados juntos. Como o general pediu vista para o caso Marighella, decidi pedir para o caso Lamarca", disse Suzana.
As circunstâncias da morte de Lamarca e Marighella são semelhantes. Mas o pedido de indenização à família do ex-capitão do Exército desagrada aos militares, que o consideram um "desertor".
Há versões divergentes sobre os dois casos. Marighella, foi morto em 1969, num cerco policial na na região dos Jardins, em São Paulo.
A versão oficial diz que ele foi morto em um carro, após um acompanhante reagir à polícia. Segundo os familiares, ele estava na rua, não usou armas e foi cercado por sete carros e 29 policiais.
Lamarca, do MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de Outubro), foi morto em 1971, no interior baiano.
A versão oficial diz que ele reagiu ao cerco feito por quatro policiais. Familiares afirmam que Lamarca não reagiu e foi assassinado.

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