São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Voto amplia idéia de dependência policial

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O voto favorável ao pagamento da indenização à família de Carlos Marighella, dado pelo relator do processo, o advogado Luís Francisco Carvalho Filho, amplia o conceito de "dependência policial ou assemelhada".
Esse conceito está previsto na lei 9.140/95 como um dos requisitos para que seja reconhecida a culpa do Estado no caso de morte de militantes políticos.
Pelo voto do relator, o fato de Marighella ter sido morto na rua, na região dos Jardins, em São Paulo, não descaracteriza o local como dependência policial. Isso porque a área estava cercada pela polícia.
"O poder público tinha o controle absoluto da área, o que se verifica pelo fuzilamento do único civil que inadvertidamente ultrapassou o cerco formado por pelo menos 29 policiais -o dentista alemão (Friedrick Adolf Rohmann)", disse Carvalho Filho, em seu relatório. "Do excesso, resulta a responsabilidade do Estado."
Para o deputado Nilmário Miranda (PT-MG), essa definição ajudará na análise do caso Lamarca. "Ajuda porque ele (Lamarca) também morreu quando estava cercado por policiais, imobilizado, ainda que numa área de sertão."
Para o advogado Carvalho Filho, os policiais "deviam guardar quem tinha sob sua responsabilidade e não o fizeram".
Segundo ele, o conceito de "assemelhadas" é "eminentemente político, não territorial". "Não está se referindo só a obras de engenharia (...), mesmo porque, como se sabe, o abuso repressivo ultrapassou esses limites físicos."
Na conclusão do relatório, Carvalho Filho afirma que Marighella foi morto "com um tiro à curta distância depois de ter sido alvejado pelos policiais, quando já se encontrava sob seu domínio e, portanto, sem condições de reagir".
O voto do relator vai ser apreciado pelos outros seis integrantes da comissão. Para que a família de Marighella seja indenizada, é preciso que ao menos 4 dos 7 membros votem a favor do pedido.

A comissão analisou ainda ontem outros oito pedidos de indenização. Destes, 3 foram aprovados, 4 negados e o deputado Nilmário Miranda pediu novo prazo para analisar o caso de Rodolfo Soares Pinheiro.

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