São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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'História' é um Scola sem esperança

ELAINE GUERINI
DA REPORTAGEM LOCAL

Vincenzo, protagonista de "A História de um Jovem Homem Pobre", tem uma vida miserável. Professor desempregado, divide um apartamento minúsculo com a mãe e passa o tempo ouvindo suas lamentações.
Sua desgraça só faz aumentar. Ele não consegue assumir o romance com a mulher que ama e, quando o faz, acaba na prisão, vítima de um equívoco -precisa provar que não provocou o acidente fatal com a mulher do vizinho.
A história tinha tudo para render um filme de difícil digestão. Isso só não acontece porque o diretor italiano Ettore Scola foge do sentimentalismo e conduz a câmera com um senso agudo do real.
Inconformado com o desemprego que atinge 5 milhões de jovens italianos, Scola retrata como a falta de auto-estima pode levar uma pessoa a optar pela solidão. É o que acontece com Vincenzo (vivido pelo ator Rolando Ravello).
O professor chega a se sentir mais confortável atrás das grades do que procurando emprego. Lá, pelo menos, tem a possibilidade de dar aulas aos presos. "A comida é boa. Quando quero ler, leio. Quando quero pensar, penso", diz o personagem.
Nem o romance lhe faz falta. Sente-se tão desinteressante que não acredita que uma mulher possa mesmo gostar dele. Prefere fingir que não conhece a namorada e dispensar um possível álibi -ela afirma que os dois estavam juntos na noite do crime.
Sua situação só não é pior porque o marido da vítima também é acusado -sua mulher caiu misteriosamente da sacada.
Como acontece na maioria dos filmes de Scola, a câmera está apenas a serviço da história, e os personagens têm suas inúmeras facetas detalhadas nas telas.

Filme: A História de um Jovem Homem Pobre
Produção: Itália, 1995
Direção: Ettore Scola
Com: Rolando Ravello, Alberto Sordi
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol e Morumbi 6

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