São Paulo, sexta-feira, 2 de agosto de 1996
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Flecha da Sibéria muda pré-história da América

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A mais nova pista da história do homem americano foi encontrada em uma região remota da Rússia.
Uma arqueóloga americana e um colega russo descrevem em um artigo na edição de hoje da revista científica "Science" um instrumento pontudo de pedra, encontrado na Sibéria, semelhante às pontas de flecha associadas com os índios americanos mais antigos.
Os índios americanos vieram da Ásia, quando havia uma ligação terrestre entre a Sibéria e o Alasca, na América do Norte. Hoje os dois continentes são separados pelo estreito de Bering, que surgiu cerca de 12.000 anos atrás.
Descobertas recentes, inclusive no Brasil, têm mostrado que falta muito a descobrir sobre a colonização humana das Américas.
A ponta de pedra traz mais algumas dúvidas sobre como se deu esse processo. Ela foi achada a 1.920 km do estreito de Bering.
O detalhe importante desse pedaço de pedra é o modo como foi feito: lascando-se estrias arredondadas de um modo que costuma ser associado aos "paleoíndios" (índios antigos) americanos que viveram de 11.200 a 10.900 anos atrás, da chamada cultura Clóvis.
Pontas como essas foram achadas em diversos pontos das Américas do Norte e do Sul.
Segundo os pesquisadores -Maureen King, arqueóloga do Instituto de Pesquisa do Deserto, de Las Vegas, EUA, e Sergei Slobodin, do Departamento de Educação de Magadan, Rússia-, os vários instrumentos de pedra encontrados têm pelo menos 8.300 anos.
Essa é a idade estimada da cinza vulcânica da camada de terra onde foram achados os instrumentos. Mas o estado dos instrumentos indica uma idade mais antiga.
"Isso sugere que eles ficaram expostos e podem ter ficado na superfície por um tempo considerável antes de serem cobertos pela cinza vulcânica. Exatamente quanto, não se sabe", diz King.
Se a ponta tiver mais de 11.200 anos esse instrumento poderia ser um precursor da tecnologia associada com os mais antigos habitantes das Américas.
As teorias sobre colonização da Sibéria e América precisam agora ser modificadas. "As implicações são imensas", diz King.

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