São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Análise fica na superfície
MARILENE FELINTO
Mostrar que Claudel enlouqueceu porque era mulher oprimida pela sociedade patriarcal machista é um dos objetivos do livro da psicoterapeuta jungiana Liliana Wahba. "A função criativa de Camille, que foi inibida, adquiriu autonomia projetando-se na figura de Rodin, que se transformou, após a dolorosa ruptura, em um animus demoníaco e perseguidor", diz Wahba. A tese de Wahba é a de que o sofrimento de Claudel vinha do fato de ela ser uma personalidade criativa além do contexto social em que vivia. Incapaz de corresponder a expectativas sociais, a escultora refugiou-se no delírio "para se proteger dos conflitos insolúveis, em que aspectos pessoais e culturais se entrelaçam". Wahba tenta decifrar o caso clínico de Camille Claudel dividindo em quatro partes vida e obra da escultora, em uma espécie de biografia e análise psicológica da artista. O livro enfoca primeiramente as relações de Claudel com a mãe que a rejeitou e com o pai autoritário. Depois é a vez do relacionamento íntimo e competitivo com o irmão Paul Claudel, também artista, e principalmente, com Rodin, o mestre e o monstro. Mas o fato é que a ambiciosa proposta do livro de Wahba -"estudo do complexo processo de criatividade com seus aspectos construtivos e destrutivos"- não sai da superfície. Não tira conclusões específicas do caso Claudel, a não ser constatações óbvias como o fato de que a doença da artista seria hoje controlada, e ela não passaria de uma "excêntrica" a viver quase normalmente na sociedade. Os aspectos biográficos -como as dificuldades materiais, a separação de Rodin, as condições do asilo em que ela viveu 30 anos, as cartas que escreveu etc. -misturam-se com generalizações de análise psicológica. O livro de Wahba não é um estudo profundo da obra de Claudel. É antes tentativa de criar sala própria para a obra e a vida da artista que ousou, e da mulher que experimentou a "frustração do feminino malvivido", seja lá o que isso signifique. (Marilene Felinto) Texto Anterior: Opressão levou Camille Claudel à loucura Próximo Texto: TRECHOS Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |