São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996
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Multas e vexames

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Mais um descompasso no bojo do governo. Seria cômodo atribuir o descompasso a uma pane na comunicação -desculpa frequentemente brandida para explicar a confusão. O problema das multas mostrou que a liderança de FHC nas entranhas do poder é apenas política e não administrativa.
A redução de 10% para 2% deve valer para todos os casos, uma vez que a medida foi adotada em face da estabilidade da moeda. O presidente diz uma coisa, o seu porta-voz diz outra. Praticamente, cada autoridade encara a redução à sua maneira e dentro de sua conveniência.
Jogar a redução para os cartões de crédito e excluir os impostos é discriminar o Estado que deseja se passar por empresa. É engordar o tubarão fiscal, dando-lhe mais um privilégio, em detrimento do mercado. Onde está a coerência?
O curto-circuito revelou uma arritmia no próprio coração do governo. Ou o presidente não sabe o que assina ou sabe que sua assinatura não é para valer. Tivemos um precedente: a proibição de fumar em recintos fechados.
O presidente se antecipou à sociedade, que ainda reluta em aceitar a campanha antitabagista. Nos Estados Unidos, foi a sociedade que se organizou em torno da proibição. Houvesse ou não lei federal, estadual ou municipal, a maioria dos americanos acredita que o fumo é mortal -e qualquer fumante sabe que tem mesmo de fumar do lado de fora, na neve ou no sol de rachar.
Na Europa, a sociedade ainda não entrou na paranóia contra o fumo. No Brasil, os fumantes não são maioria, mas ainda pesam. Restaurante que cumpra a determinação do governo corre o risco de falir.
O decreto de FHC foi uma afobação, inviável em sua prática. Deu a impressão de que, afora as futricas de cargos e estratégias eleitorais, na hora de administrar o presidente assina qualquer papel sem saber o que está fazendo.

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