São Paulo, domingo, 4 de agosto de 1996
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Tradição oposicionista ajuda a explicar adesão

ELEONOR DE LUCENA
DA REDAÇÃO

Políticos, empresários e intelectuais encontram razões históricas e culturais para explicar o sucesso do PT em Porto Alegre. Capital de um Estado que pouco viveu do colonialismo português, a cidade tem tradição de ser esquerdista, independente, do contra. Nas últimas eleições, Fernando Henrique Cardoso só perdeu entre os gaúchos.
Ruben George Oliven, 50, professor de antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, lembra da participação do Estado nas guerras de fronteira, no período de independência vivido na revolução Farroupilha (1835-45), na revolução de 30 e na campanha da Legalidade em 1961.
"Por tudo isso o Estado é muito politizado, fez muitos ministros, políticos, ditadores", afirma Oliven. Para o historiador Décio Freitas, "hoje a cidade canaliza através do PT sua velha e tradicional oposição ao poder central".
Freitas acrescenta que, depois do período do regime militar, o Estado perdeu força no governo central. Além disso, passa por uma crise econômica em função do fim do modelo exportador que enriqueceu a região nos anos 70.
O presidente da Fiergs, Dagoberto Godoy, enxerga no estatismo e no idealismo explicações para o fenômeno PT no Sul. Para ele, os gaúchos querem "uma sociedade dirigida pelo Estado, paternalista e distributivista". Influenciados pelo positivismo, "valorizam muito aspectos éticos e morais dos políticos", diz.
Classe média forte
O historiador Freitas concorda e acha que a cidade "tem medo" de repetir a experiência controvertida da gestão Alceu Collares (PDT), que antecedeu o PT na prefeitura e foi envolvida em acusações de irregularidades. Godoy, da Fiergs, chama atenção para o fato de o PT estar muito baseado na classe média e no funcionalismo público. De fato, a principal liderança no partido no Estado é um bancário (Olívio Dutra). O prefeito é um advogado.
Tarso Genro argumenta que a classe média porto-alegrense "nunca foi preconceituosa contra a esquerda e é aberta a ouvir a esquerda". Para ele, esse elemento ajuda a explicar porque o partido conseguiu fazer uma "sedução política".
"O fato de não haver uma classe média reacionária milita a nosso favor. São Paulo, por exemplo, tem uma classe média muito conservadora, em que os valores são os enunciados de cima", afirma o prefeito.
Na avaliação do antropólogo Oliven há uma boa dose de pragmatismo que explica o fenômeno: "O PT aqui não se mete em polêmicas, busca consenso, não é sectário". Para ele, isso cativa o eleitorado na esfera municipal. Na estadual, a história pode ser outra.
(EL)

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